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A comunicação e o desafio do governo
23 de Janeiro de 2013

A comunicação e o desafio do governo

A comunicação não é um mecanismo que se implanta na tentativa de  resolver problemas de relacionamento de uma organização. É um processo que envolve todos, sem exceção, que atuam direta e indiretamente na organização, sob a espátula de princípios que norteiam uma política de convivência e de relação recíproca de confiança. A propósito, a confiança tanto traduz o grau de eficiência do gestor quanto a transparência e equidade da comunicação..

Com certeza, não é fácil obter um nível razoável de comunicação em um governo movido por coligações partidárias. Veja um exemplo: a crise na saúde, estampada diariamente na mídia, não ganha solução emergencial e uma das razões é porque o PMDB não admite tirar o secretário Dalmo Oliveira. A população pode até saber que o partido do vice-governador e de dois senadores é uma das causas de a saúde permanecer na UTI. Mas a imagem anêmica de uma pasta enferma reflete diretamente no governo. Logo, há um jogo de poder que interfere de forma nociva na imagem institucional.

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O poder, inflacionado pelas coligações, acaba-se embirrando, embicando, embolando, embrandecendo, embezerrando, embuchando, em um contraste com a imagem do próprio governador, que em suas aparições demonstra ter pressa para resolver os problemas do estado. Mas em quem confiar: no governo ou no governador?

Nessa contenda de estratégias e de interesses, os líderes partidários não fazem questão de enxergar o papel do estado; querem ocupar espaço e mostrar aos seus correligionários os dividendos que obtêm como seus representantes no governo. O impasse na saúde é um exemplo. Por outro lado, o governador, sob o temor de uma desarticulação político-partidária, pisa sobre ovos e, com isso, reflete uma imagem de hesitação.

Assim, a comunicação não consegue realmente ser um processo, mas conexões compartimentadas, em um mosaico de cores partidárias e de grupos corporativos. E isso se reflete nos planos de marketing do governo. As campanhas promocionais põem secretarias e órgãos estatais figurando ao lado do nome governo em peças publicitárias, reforçando a imagem de um condomínio político-partidário.

O ex-governador Jorge Bornhausen, que fez alianças partidárias, talvez tenha sido o único que não admitiu imagens paralelas. Nem mesmo o seu poderoso secretário Esperidião Amin fez anúncios personalizados de obras, como a rodoviária SC-401, a continuação da beira-mar norte, o Centro Integrado de Cultura, etc., mesmo com Jorge hipotecando-lhe apoio à sua sucessão, na primeira eleição direta após a ditadura.

Quem sabe o novo secretário de Comunicação, jornalista Nelson Santiago, tenha sucesso em mostrar ao governador a necessidade de suprir o paradoxo entre o discurso eloqüente do governante e o fragmento de imagens do governo, em que cada político quer embutir a sua estratégia eleitoral.

O equívoco de política de marketing, com roupagem de plano de mídia, é apenas enxergar a necessidade de divulgar obras. O desafio assumido pelo governo, de modernizar a sua estrutura funcional, é um bom marketing, mas se for simplesmente divulgado em peças promocionais, com certeza despertará questionamentos populares: e as 38 secretarias regionais vão permanecer? Para quê? Ora, essa resposta precisaria estar embutida na política de marketing. O governo investe na saúde? Por que a maioria dos hospitais está enferma?  Isto quer dizer que a política de marketing não se resume a um plano de mídia, bem o contrário. A política de marketing faz parte de um plano amplo e irrestrito de comunicação. E aí entro novamente em conflito com o meu amigo professor Elóy Simões, para quem o marketing nasceu primeiro. E cita Jesus como exemplo. Elóy sempre é um profissional competente que não dispensa doses homeopáticas de ironia.

Além de processo interno de convergência, confiança e relacionamento eficiente, A comunicação também é a maneira de o governo relacionar-se com a sociedade, com os prefeitos sem cor partidária, lideranças de classe, etc. E, sobretudo, o governo precisa demonstrar ser partícipe de todos e quaisquer problemas do estado. Quando se viu barack Obama, em cadeia de TV, falando sobre o assassinato em massa de crianças em uma escola, fica uma pergunta: e se tivesse ocorrido em Santa Catarina? Seria apenas um caso de polícia? Ou o governador iria assumir posição e falar à sociedade?

O governador precisa ser autoridade em todas as circunstâncias em Santa Catarina. E isso reduziria substancialmente a imagem do governo de condomínio político-partidário.

Tudo isso aí se resume numa coisa: é preciso que a Secretaria de Comunicação enxergue o seu papel sob a ótica de toda a organização, inclusive em nível de organicidade interna, de relacionamento eficiente e de confiança. A relação do governo com a sociedade precisa de uma política sedimentada na eficiência da ação, das respostas. A crise hospitalar, aumentada com a greve dos funcionários, poderia ter sido abrandada se o governador estivesse na linha de frente, marcando presença nos corredores hospitalares e determinado ações imediatas. Mas predominou a hesitação sobre a permanência do secretário. E para piorar a imagem, em meio aos escombros hospitalares, o PMDB disse em altos decibéis que Dalmo Oliveira não sairia da secretaria, E ficou!

O governo tem um grande potencial de imagem: um governador com competência em discurso, e um modelo recheado de planos de obras. Falta um plano de comunicação, capaz de fomentar um só discurso e equacionar problemas que a sociedade não admite, como as 38 secretarias regionais.

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