Reconheço uma dose (forte) de preconceito, mas talvez seja uma força contrária da minha mente, proporcional à força que nela tenta instalar frases feitas. Eu não suporto mais ouvir e ler citações. Eu não suporto mais a passividade das pessoas, diante do massacre dos postulados, das máximas, dos “pensamentos” alheios… Se um pipoqueiro fala uma gracinha, lá vai a gracinha do pipoqueiro eternizar-se em bronze. Hoje, o “frasismo” virou um negócio que movimenta uma dinheirama. Títulos de livros, às centenas, se oferecem com sua “sabedoria de literatura de aeroporto” nos lares, nas empresas, nas escolas, em todos os cantos; palestrantes se espalham de norte a sul, levando suas “filosofias” à milhares de seres sedentos por uma expressão que carregue alguma lógica, por mais simplória, para que possam sair replicando o que ouviram e tentar demonstrar alguma inteligência. Vídeos são recomendados também às pencas com mensagens repletas de lugares comuns reembalados com o formato da moda. E lá vamos nós nos concentrarmos em cada um desses meios para nos embebedarmos de tanta luz… Oh!
Estamos formando uma geração de bonecos de ventríloquos. Estamos nos transformando em prateleiras, onde guardamos ideias dos outros. Faz tempo não escuto alguém manifestar um pensamento particular, nascido de sua própria reflexão; faz tempo não escuto alguém contestar uma ideia consagrada; faz tempo não ouço algo novo em si e não por alinhado com as “novidades”. Foram-se os tempos da rebeldia! Foram-se os tempos de criação genuína! Onde foi parar o pensamento “ao contrário”, essa verdadeira missão transformadora?
O que, hoje, enchemos a boca para chamar de inovação não passa de mesmice porque trata apenas de buscar uma forma de chegar mais rápido e mais barato no mesmo lugar. Pura previsibilidade. Hoje, trabalhamos como escravos para tornarmos tudo cada vez mais perfeitamente previsível. Que tédio! Só existe evolução nos meios, nunca nos fins! Somos forjados para investir tempo e energia no cumprimento do óbvio. Quanto mais óbvias as coisas, mais motivadoras querem que elas sejam. E não é assim, o óbvio não é motivador, a equação fechada e a ideia engessada não são desafios! São apenas burocracia. Estamos nos especializando em burocracia intelectual, em burocracia artística, em burocracia científica.
Por isso, ficou tão fácil “formar” gente, se tornou um negócio tão rentável. Porque aquilo que ensinamos é barato de produzir e percebido como “valor” por milhões de incautos. Vendemos ventriloquismo do mais ordinário e as pessoas acreditam que ser boneco de ventríloquo é o must! Ave Maria! Não quero que ninguém concorde comigo, apenas que acorde, mesmo que para discordar. Mas que discorde acordado.