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César Sousa precisa conhecer Florianópolis
06 de Dezembro de 2012

César Sousa precisa conhecer Florianópolis

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por Laudelino José Sardá

Uma cidade com vocação turística não pode se limitar a querer encantar visitantes com belezas naturais, além de tudo mal cuidadas. Na primeira carta aberta ao prefeito eleito, ressaltávamos que a beleza está sendo destruída e a cultura vilipendiada. Temos três grandes e valiosos acervos – fora os tantos abandonados – que poderiam se constituir em um memorial da Ilha de Santa Catarina, como sugere Peninha Gelci Coelho, que por muitos anos organizou e conservou – sem o apoio imprescindível – as obras singulares de Franklin Cascaes, na UFSC.

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O primeiro monumento é o valiosíssimo acervo arqueológico do padre Alfredo Hohr, trancafiado no Colégio Catarinense, quando poderia, com o apoio da prefeitura e do governo do estado, ganhar um museu público. O outro rico acervo fica em frente ao teatro da Ubro, na casa do nonagenário Índio Machado, que por mais de 50 anos reuniu e preservou relíquias da Ilha, de pássaros empalhados a equipamentos centenários. E o museu de Franklin Cascaes, encarcerado no mundo acadêmico, onde a presença de turistas faz docente e estudante revirarem os olhos e torcerem o nariz. Hamilton Savi, o mais atuante pró-reitor de Extensão da UFSC e que faleceu no último dia 29, habituava-se a dizer que o mundo imaginário e mágico de Franklin é a identidade da Ilha.

Mas não é.  Apenas se utiliza a palavra magia sem de fato ligar a cidade ao mundo das bruxas, boitatá e de tantas outras figuras lúdicas da mitologia açoriana, que surgiram da pesquisa feita pelo próprio Franklin junto às comunidades de descendentes de açorianos.

A cidade perde a sua identidade por força da ganância desenfreada dos que lucram por metro quadrado. Mangues destruídos, casas centenárias demolidas, algumas até na calada da noite, como a que abrigou, por muitos anos, Anibal Nunes Pires e a sua família;  ruas encarceradas pela ambição desenfreada dos que só têm cifrão nos olhos; praias invadidas, etc. Na praia de Canasvieiras, por exemplo, proprietários de casas chegaram a descarregar toneladas de pedras na areia, na tentativa de conter a revolta das águas que avançam com destemor e vingança sobre suas residências. Há trechos da praia intransitáveis durante a maré alta, justamente por causa do entulho lançado contra o direito do mar e de suas ondas. As praias da Ilha foram invadidas de forma tão agressiva que nenhuma permite hoje a construção de calçadão. Só os invasores têm direito de ver o mar. Em Ingleses é preciso caminhar muito para encontrar um acesso ao mar.

A cidade mortifica-se sem identidade. Seria uma cidade indigente? A pobreza da nossa Florianópolis está justamente na ausência de uma referência histórica e cultura, resgatada e conservada. Temos mais histórias que os gaúchos, mas estes cantam seu hino e comemoram o dia 20 de setembro – a Farroupilha – como se fosse uma festa familiar. A propósito, no jogo entre Figueira e Grêmio, os gaúchos contaram o seu hino simultaneamente à execução do hino nacional. Desrespeito? Sim, claro.

A Ilha tem o maior poeta simbolista, o artista que pintou a primeira missa do Brasil, tem ótimos compositores musicais, cinco teatros, universidades, fortalezas, só que seus gestores sobrevivem do circunstancialismo político, pouco se importando com o vazio histórico e cultural. Bastam praias para nos vangloriar, embora tomadas pelo odor das fezes dos que constroem mansões à beira do mar e nele lançam o seu esgoto. É o paradoxo de uma burguesia caolha.

As atrações históricas e culturais adormecidas da Ilha são mais imponentes que as da Bahia e mesmo de Ouro Preto. Os turistas aqui não precisariam se agasalhar em shopping em dias nebulosos se os gestores públicos entendessem que turismo não vive da sazonalidade e de uma imagem restrita às águas do oceano ou de lagoas.

Vamos acreditar – ou pelo menos tentar – que o novo e jovem alcaide pensará diferente, enxergando os valores da nossa cidade. Precisamos mostrar a nossa verdadeira cara, prefeito César Júnior, mas antes temos de retirar a máscara da prepotência e da arrogância que contaminam os que se acham inquilinos mandantes da cidade. Florianópolis não se resume a um campo de golfe, à avenida do mau hálito – a beira-mar norte -, a uma ponte inválida, a praias desprezadas. Florianópolis tem história e cultura que enobrecem a sua gente.

O jovem alcaide César Souza Júnior precisa, antes de tudo, estudar Florianópolis, para descobrir a sua riqueza. Vamos rogar a Santa Catarina de Alexandria que dê energia ao mais jovem alcaide da história de Florianópolis.

 

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