No ano de 1996 tive a oportunidade de trabalhar em Cuba para auxiliar na implantação do setor de Gestão de Pessoas de uma multinacional inglesa, que retornava ao país depois de anos de exílio. Foram 9 viagens ao país com estadas variando de 15 a 30 dias. Foi uma experiência única, pois tinha tudo a ser feito, desde definir e escrever as políticas que organizariam as relações de trabalho até sua implantação.
Conforme me familiarizava com os hábitos e costumes tomava conhecimento de procedimentos adotados pelo governo comunista para manter a economia e a população controladas. A “Libreta de Abasteciemento” foi a forma encontrada para garantir aos cubanos a alimentação básica a preços subsidiados. Cada cubano ao nascer recebe sua libreta em que são especificados os itens a que terá direito.
Óbvio que a implantação deste modelo foi fruto do encerramento das atividades de empresas que produziam no país e, com isto a falta de produtos se acentuou. Conversando com amigos cubanos, reservadamente, eles afirmavam que quase nunca encontravam os produtos que precisavam e que lhes eram ofertados o que havia no momento em troca; quando aceitavam eram obrigados a ir às ruas praticar o escambo atrás do que necessitavam. Não é necessário dizer que o mercado paralelo funcionava a todo vapor.
Esta análise rápida permite fazer um paralelo com o Programa Bolsa Família. O paternalismo dos governos cubano e brasileiro trata seus habitantes como incapazes de produzir seu sustento e introduzem um programa que nada lhes exige e os trata como párias de um sistema que cada vez mais aumenta o número de beneficiários e reduz o de provedores. Esta anomalia vai produzir mais e mais miséria porque afasta as pessoas do mercado de trabalho e acostuma-as ao “laissez faire”.
Espero que não se chegue em “Pindorama” ao que vi e vivi em terras cubanas. Toda manhã, ao iniciar os trabalhos, apresentavam-se nos portões da fábrica, um grupo de trabalhadores adicionais e registrados, que só trabalhariam para suprir as ausências do dia e só ganhariam pelo dia trabalhado. Outra situação esdrúxula é o número de trabalhadores que se apresentam para trabalhar em troca da alimentação do dia.
O Programa Bolsa Família tem seu valor no tempo mas, importante que se estabeleçam algumas obrigatoriedades aos usuários de forma que evitemos uma legião de pessoas inúteis conforme afirmam cientistas sociais, entre eles Yuval Noah Harari. A principal obrigatoriedade deveria ser a limitação do tempo do benefício.
Porém, as más notícias não param por aí. Segundo o IBGE o Brasil tem, hoje, 300 mil moradores de rua (entre eles usuários do Programa Bolsa Família), o crescimento dos jogos eletrônicos, em um país que aposta em tudo e acredita na sorte e o governo agindo em favor dos grandes bancos criando o crédito consignado com garantia do FGTS com juros de até 40% ao ano.
Não vou sequer tocar no sistema previdenciário porque a discussão não está presa a se vai ou não quebrar, mas a data em que isto acontecerá. O conjunto de fatores para a tempestade perfeita está pronto, quem acionará a alavanca?

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