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Coluna Lígia Fascioni | As indústrias do futuro
10 de Setembro de 2018

Coluna Lígia Fascioni | As indústrias do futuro

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Por Ligia Fascioni 10 de Setembro de 2018 | Atualizado 10 de Setembro de 2018

Alec Ross, autor do The industries of the future (tradução livre: “As indústrias do futuro”), foi assessor de inovação da senadora americana Hillary Clinton por quatro anos. Nesse período ele visitou projetos no mundo todo e conseguiu fazer uma leitura bem interessante do panorama da inovação ao redor do mundo. 

 

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O livro, separado em seis capítulos, trata da crescente utilização dos robôs no dia-a-dia, da biotecnologia, da codificação do dinheiro (FinTechs, Bitcoin, Blockchain), da programação como arma, da big data e da geografia dos futuros mercados.

 

Sobre os robôs, ele fala que já são comuns na automação industrial há muitos anos (verdade; trabalhei com robôs lineares no início da minha carreira como engenheira, nos anos 1990; lá se vão quase 30 anos!), mas agora as tecnologias disponíveis permitem que essas máquinas atuem em mais áreas. 

 

No Japão, por exemplo, onde quase 30% da população terá mais de 65 anos em 2020, os robôs estão sendo desenvolvidos para ser cuidadores de idosos e pessoas com mobilidade reduzida, controlando os horários dos remédios, fazendo compras, cozinhando, limpando a casa, entretendo, etc. Até conversas e expressões podem ser programadas com inteligência artificial. É claro que fica muito difícil de imaginar que uma máquina possa cumprir todas essas funções com toda a delicadeza que elas exigem, mas os japoneses, ao contrário dos ocidentais, estão empolgados e investindo muito numa versão real da Rosinha dos Jetsons. A explicação é que os orientais tem uma predisposição cultural favorável porque crêem no animismo (ou seja, objetos, animais e plantas também têm alma), o que reduz a resistência a ter um equipamento desses em casa. Principalmente se a gente pensar que não vai ser um armário de metal, mas um robô bem parecido com um humano feito de silicone e outros materiais de aparência menos agressiva. 

 

Alguns poucos países estão na liderança da fabricação e consumo de robôs; só para se ter uma ideia, 70% do total de vendas de robôs no mundo são do Japão, China, EUA, Coréia do Sul e Alemanha, sendo que Japão, EUA e Alemanha dominam os robôs industriais e na área médica. Coréia do Sul e China são mais orientados para o consumidor final; mas esse cenário está mudando rapidamente, uma vez que as vendas da China estão crescendo 25% ao ano.

 

A Rússia está bem atrasada, ainda focada no mercado extrativista (a América Latina nem sequer é citada), mas a África tem alguns projetos interessantes na área.

 

Além dos robôs para fim militares, automação, carros autônomos e professores virtuais, os nanorobôs também estão sendo desenvolvidos para aplicações importantes na medicina, sem falar nos robôs virtuais (muito provavelmente você foi atendido por um robô e nem percebeu, se tentou entrar em contato com uma empresa pelas redes sociais, por exemplo).

 

Muita gente se apavora com a ideia, mas basta lembrar que há algumas décadas ser caixa de banco ainda era uma carreira e a movimentação bancária era registrada à mão em fichas de cartolina. Hoje, ninguém discute a eficiência de um caixa automático ou mesmo a preferência por movimentar uma conta pelo Smartphone.

 

Sobre a bioengenharia e a engenharia genética, as pesquisas também vão impactar muito o futuro das organizações. Essas empresas já possuem um mercado importante que só faz crescer. Tanto no desenvolvimento de novas drogas, como o mapeamento do DNA para descobrir predisposição a doenças e evitar outras. Não apenas a expectativa de vida será ampliada por conta dessas ferramentas como uma elite de super humanos com capacidades aumentadas aparecem no horizonte como realidades próximas bem possíveis.

 

As criptomoedas aparecem com um papel importantíssimo; por causa do Blockchain, que decentraliza a informação de maneira segura, muitas aplicações além do dinheiro podem surgir. A própria maneira como as negociações são feitas no mundo todo está em franco processo de transformação.

 

A parte que achei mais interessante é a que Ross dizia que ouvia sempre a mesma frase, fosse em qual lugar do mundo estivesse: “Queremos ser o novo Vale do Silício”.  Ele explica que isso não é mais possível; existe toda uma conjuntura, inclusive cultural, que propiciou o nascimento e o desenvolvimento do Vale; além do fato de que ele já está décadas na frente com experiência, investidores e ambiente inovador. O que se pode fazer, para descentralizar a inovação, é criar outras versões com outras competências. Mesmo assim, é difícil.

 

Eles diz que as cidades são os hubs para a inovação e selecionou algumas que chamou de cidades-alfa por causa da sua posição privilegiada, seja do ponto de vista econômico, cultural, ou de investimentos. As alfa são cidades como Shangai, Londres, New York, Tokyo, Singapura, Tel Aviv e Seoul, por exemplo. Berlim, Frankfurt e Munique aparecem como cidades beta e gama para a inovação. Apesar de não serem muito grandes, possuem a cultura e a infraestrutura necessárias. 

 

Aliás, infraestrutura é a palavra-chave. Sem ela, não há como as empresas se desenvolverem e as pessoas produzirem. Ele ainda fala em cidades que aspiram se transformar em hubs globais de inovação como Jakarta, Mumbai e São Paulo. O problema delas é justamente a da infraestrutura física, mão de obra qualificada e aplicações de big data no dia-a-dia das pessoas, que ainda são insuficientes.

 

Ross lembra ainda que o ambiente inovador implica liberdade e diversidade. Dificilmente países fechados, tanto no controle da economia como nos direitos das mulheres, por exemplo, terão condições de desenvolver inovação em escala global.

 

Por último, ele destaca que a formação em ciências exatas deve ser combinada com artes e humanidades. A inovação ganha muito quando um artista aprende a programar e quando um engenheiro estuda psicologia. 

 

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