Adriana Reis, formada em Direito, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, construiu uma trajetória de destaque que une conhecimento técnico, visão estratégica e paixão pela aprendizagem. Atualmente, como líder da Cultura de Aprendizagem na Globo, ela conduz iniciativas inovadoras que impactam milhares de colaboradores, promovendo o desenvolvimento contínuo em um dos maiores grupos de comunicação do país. Nesta conversa, Adriana compartilha as lições de sua carreira, os desafios de liderar em um cenário em constante transformação e as estratégias que a tornaram referência na área de desenvolvimento e aprendizagem organizacional.
Muito grato por contribuir com nossa coluna de carreira. Sua formação inicial foi em Direito, mas sua carreira se consolidou na área de Treinamento e Desenvolvimento. Como essa base jurídica contribuiu para sua trajetória profissional e que elementos do Direito você considera aplicáveis no trabalho com gestão de pessoas e cultura organizacional?
A formação em Direito foi fundamental para minha trajetória profissional, principalmente porque me trouxe muita disciplina. Foram cinco anos de faculdade, estudando intensamente, lendo bastante e construindo uma base jurídica muito sólida. Essa base me proporcionou habilidades analíticas e uma capacidade de resolver problemas que considero essenciais para a gestão de pessoas e a construção de uma cultura organizacional. Habilidades como argumentação e negociação, que desenvolvi fortemente no curso de Direito, foram cruciais para mediar conflitos e alinhar expectativas, especialmente em projetos de aprendizagem de grande porte. Esses elementos me permitiram abordar o desenvolvimento organizacional de maneira estruturada, sempre alinhada à estratégia do negócio.
Com dois MBAs focados em Gestão Empresarial e Educação Corporativa e uma especialização recente em Gestão de RH com Ênfase em Treinamento e Desenvolvimento, como você percebe o impacto da educação continuada na sua evolução profissional? Quais foram os momentos em que essas formações foram cruciais para alavancar sua carreira?
Sou uma pessoa que gosta muito de estudar e me manter atualizada. Para mim, é essencial acompanhar as tendências e o que está acontecendo no mercado. Realizar novas formações é uma forma de continuar relevante e alinhada às exigências do setor. Encaro a educação continuada não como um ato isolado, mas como um processo constante. Cada especialização e formação que fiz teve um papel importante na minha trajetória. Por exemplo, no Mercado Livre, entrei em um momento em que era necessário implementar uma plataforma de LMS para atender a uma empresa do porte do ML, cuidando das pessoas responsáveis pelas entregas em toda a América Latina. Já no iFood, criei estratégias de treinamento que possibilitaram a reestruturação do time, triplicando a produtividade dos treinamentos e ampliando nosso atendimento a todos os stakeholders. Esses resultados foram diretamente impulsionados pelas formações que concluí, mostrando como a busca por atualização e relevância foi decisiva para o sucesso das estratégias que implementei em cada organização.
Ao longo da sua trajetória, desde seus primeiros anos atuando em gestão até cargos de liderança em empresas como Mercado Livre, iFood e Globo, você tem contribuído para a evolução de práticas em treinamento e desenvolvimento. Como você avalia as mudanças no setor de T&D ao longo dos anos e que competências considera indispensáveis para quem deseja construir uma carreira sólida nessa área?
Esse setor está em constante transformação, como tantos outros, mas percebo mudanças muito significativas na área de desenvolvimento e aprendizagem, especialmente com o avanço da tecnologia e a personalização do aprendizado, que ganham cada vez mais destaque. Competências indispensáveis hoje incluem adaptabilidade, conhecimento em tecnologias educacionais e habilidades de comunicação.
É fundamental criar experiências de aprendizado envolventes e eficazes, colocando a pessoa no centro do processo. Ela precisa entender o quanto é protagonista do próprio desenvolvimento. Atualmente, fala-se muito sobre esse papel ativo das pessoas, onde não se espera mais que o RH seja o único responsável por desenvolvê-las, mas sim que elas criem suas próprias narrativas e espaços de crescimento. Para construir uma carreira sólida na área de desenvolvimento e aprendizagem, é essencial compreender o papel de ser um provocador, um impulsionador e um facilitador, utilizando metodologias e ferramentas adequadas, independentemente da empresa onde se atua.
Em sua atual função como Coordenadora de Desenvolvimento e Aprendizagem na Globo, você liderou projetos premiados como o Aprende Globo, focado na democratização do aprendizado para milhares de colaboradores. Quais foram os principais desafios e aprendizados nesse processo, especialmente ao implementar uma cultura de aprendizagem contínua em uma organização tão ampla e diversificada?
Liderar um projeto como o Aprende Globo foi um desafio enorme, mas também muito recompensador. Implementar uma cultura de aprendizagem contínua em uma organização com 13 mil pessoas, com o foco principal em democratizar as ações de desenvolvimento e aprendizagem, já era um grande desafio. As iniciativas foram muito diversificadas, e o maior objetivo era criar uma estratégia inovadora.
Alcançamos isso com o lançamento do sistema de aprendizagem em um formato inovador, num programa de auditório, como o do Luciano Huck. A ideia era ser leve, diferente e autêntico, e acredito que conseguimos. Hoje, temos 66% das contas ativadas na nossa principal plataforma oficial de aprendizagem, o LinkedIn Lab, em apenas quatro meses de lançamento. Esse resultado nos coloca em destaque, e já estamos sendo benchmark em relação a esses números. Recentemente, ganhamos um prêmio da Inovativa e estamos concorrendo a outro prêmio relacionado à revolução na aprendizagem, o que nos dá muita satisfação. Esse é um momento de celebração.
O que aprendi com essa experiência foi que a comunicação clara e o engajamento da liderança são cruciais para o sucesso de qualquer plano que se queira implementar em uma organização. Essas duas práticas fazem toda a diferença.
Você menciona suas filhas como grandes inspirações na vida. Como as decisões em sua carreira foram influenciadas por essa perspectiva de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, especialmente em posições que exigem um alto nível de dedicação?
Essas perguntas sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional são típicas. Sempre gosto de falar sobre minhas filhas, que são minha maior inspiração. São por elas que luto todos os dias, buscando um mundo melhor, sem preconceitos, onde todos possam ser quem quiserem. Foi por elas, inclusive, que me desafiei a buscar novas oportunidades, após dez anos em uma grande empresa de telecomunicações. Elas, de fato, são minha maior fonte de motivação. Hoje, busco sempre manter esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional, priorizando momentos de qualidade com elas e com minha família. Tento organizar minha rotina de forma eficiente, começando com levar as meninas à escola, em seguida dedicando tempo à academia e mantendo a terapia em dia. Essas práticas me ajudam a equilibrar o dia a dia. Atualmente, ocupando uma posição de liderança na Globo, aprendi a gerenciar meu tempo de forma ainda mais eficiente, algo que já fazia, mas que foi aprimorado. Delego responsabilidades sempre que possível, garantindo que os dois aspectos da minha vida sejam atendidos de forma equilibrada.
Recentemente, tem havido uma grande ênfase na aplicação da tecnologia nas organizações, notadamente a Inteligência Artificial. Qual é sua opinião sobre isto? E como você avalia o impacto destas tecnologias no mundo do trabalho?
A tecnologia, especialmente a inteligência artificial, está transformando o mundo do trabalho. Essa é, sem dúvida, uma palavra-chave que permeia todas as organizações. Enxergo a IA como uma aliada poderosa na personalização do aprendizado e na análise de dados, contribuindo para o aprimoramento dos programas de desenvolvimento dos colaboradores. Ela possibilita trazer mais personalização e eficiência a esse processo. No entanto, é crucial equilibrar a tecnologia com o toque humano, garantindo que as interações relacionadas ao desenvolvimento pessoal não sejam negligenciadas. Trata-se de usar a tecnologia a nosso favor, para sermos mais produtivos, mas sempre lembrando que são as pessoas que estão no comando.
É fundamental entender como podemos manter esse equilíbrio entre uma força de trabalho expandida, composta por pessoas e tecnologia, e como fazer essa parceria funcionar bem. A dobradinha entre pessoas e inteligência artificial é, sem dúvida, um dos maiores desafios e oportunidades para o futuro do trabalho.
Diante de sua ampla experiência na área de Treinamento e Desenvolvimento, qual seria sua mensagem final para esta entrevista, visando contribuir com alguém que considera esta opção de carreira ou está iniciando nesta área?
Primeiramente, quero agradecer ao Jonny pelo convite e pela oportunidade de estar aqui falando um pouco sobre a minha carreira e sobre o que amo fazer. Já nesse tom, sobre o que eu amo, minha principal mensagem para quem está começando na área ou deseja trabalhar nela é: seja apaixonado pelo que faz, um eterno apaixonado. Transmita essa paixão para o mundo, porque, de verdade, o restante será consequência. Claro que existem muitas outras coisas importantes, mas quando você traz essa paixão de forma natural, as pessoas percebem, e os resultados acabam acontecendo. Além disso, é essencial investir em educação continuada, manter-se curioso e adaptável, entendendo que a mudança é a única constante. Esteja sempre preparado para essas transformações.
Foque também em desenvolver habilidades como comunicação e empatia, que são fundamentais para criar um ambiente de aprendizado eficaz e inspirador. Não tenha medo de tentar coisas novas; faça diferente. Acredite, vai dar certo se você se arriscar.
Para encerrar, compartilho uma frase de um filósofo chamado Antônio Bispo, que diz: “Aprendizagem é começo, meio e começo. Não tem fim.” Essa frase resume bem o que acredito. Seja um eterno aprendiz e escolha algo que realmente te faça feliz. A vida é muito curta para não ser vivida com alegria e propósito. Muito obrigada!
Lições de carreira
Meu contato com Adriana Reis foi através de um post publicado por Ana Claudia Plihal, Head do LinkedIn no Brasil. que também concedeu entrevista para nossa coluna. A postagem era um vídeo com depoimento de Adriana sobre porque a Globo havia escolhido o LinkedIn como plataforma de aprendizagem. Lendo o perfil de Adriana, me chamou atenção a seguinte frase: E se quiser tomar um café, para conversar e trocar ideias sobre aprendizagem, ou sobre liderança é só me chamar. Diante disto, a contatei já propondo fazer esta entrevista, o que ela prontamente aceitou.
De sua bela trajetória, fica a principal lição de que a busca por educação continuada e adaptação às constantes mudanças do mercado são pilares centrais de uma jornada de sucesso. Desde a implementação de grandes projetos como a cultura de aprendizagem contínua na Globo, até o uso de tecnologia e inteligência artificial para personalizar experiências de aprendizado, Adriana demonstra como inovação e curiosidade são fundamentais para superar desafios e alcançar resultados expressivos. Sua liderança, marcada por comunicação clara e engajamento, reforça a importância de equilibrar tecnologia com um olhar humano.
Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo artigo!
Abraço, Jonny