Um dos maiores medos de quem escreve atualmente é ter suas obras questionadas pelo uso de inteligência artificial.
por André Balaban*
A “polêmica da semana” é o uso do sinal de travessão — justamente eu, que adoro esse recurso — como um indício de texto feito por I.A. Será que chegaremos ao ponto de precisar escrever com erros gramaticais para mostrar que o texto é humano? Um “menas” aqui, um “iurgute” ali, um “agente quer”acolá será sinal de status-humano em vez de hate-gramatical?
Minha trajetória na comunicação começou como redator publicitário, uma profissão que, apesar de ser fundamental, infelizmente quase não encontramos mais por aí. Como vou carregar esse DNA eternamente, me preocupo bastante com esse tema, mas tenho uma opinião um pouco diferente da maioria.
Antes, as carroças eram puxadas por tração animal; depois, surgiram os carros com motores a combustão. Agora, estamos na era dos veículos autônomos.
Antes, as cartas levavam meses para chegar ao destinatário; hoje, nos comunicamos em segundos. Antes, criávamos artes gráficas manualmente; hoje, usamos programas de edição digital que transformam ideias em realidade em questão de cliques. Tudo isso é uma evolução natural para agilizar processos, não tem volta, que bom!
Entendo que as ferramentas de geração de texto com ajuda de I.A. também representam uma evolução na nossa forma de expressar pensamentos.
Devemos incorporá-la em nosso dia a dia da mesma forma que nos beneficiamos de todas evoluções tecnológicas.
O que é fundamental e insubstituível ainda permanece inalterado: a criação é uma prerrogativa humana por definição.
Qualquer ideia verdadeiramente original precisa nascer no cérebro; a máquina só ajuda a lapidar, ela não tem o poder de criar algo novo, apenas uma capacidade sobre-humana de organizar e apresentar opções do que já existe.
Por mais tentador que seja assistirmos as IAs “resolverem” textos em segundos, eles não são inéditos, são a recombinação de palavras já escritas.
De uma coisa não podemos abrir mão: a originalidade e a criatividade continuam sendo nossos maiores diferenciais de inteligência neste mundo — cada dia mais artificial.
André Balaban – Publicitário, Estrategista Criativo na The Lovers Company. (wearelovers.co)