por Carlos Rocha dos Santos*
No último dia 13 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que proíbe o uso de celulares, tablets e relógios inteligentes por estudantes em salas de aula, recreios e intervalos, abrangendo tanto escolas públicas quanto privadas. A medida, de acordo com o portal G1, foi classificada pelo presidente como um “ato de coragem, cidadania e respeito ao futuro deste país”. O objetivo principal é combater distrações e melhorar a qualidade do ensino. Mas será que uma proibição é o caminho mais eficaz para resolver o problema? Ou estamos diante de um paliativo que desvia o foco de questões mais profundas relacionadas à educação e à tecnologia?
Por um lado, é inegável que os dispositivos móveis se tornaram uma fonte significativa de distração. Estudos internacionais indicam que o uso excessivo desses aparelhos em sala de aula reduz o desempenho acadêmico, interfere na concentração e compromete a interação social. Alunos que recorrem a redes sociais e jogos durante o horário escolar não apenas prejudicam seu aprendizado, mas também desestabilizam a dinâmica pedagógica, desviando a atenção de colegas e professores. A intenção de criar um ambiente livre de interrupções tecnológicas parece, à primeira vista, um esforço louvável.
No entanto, ao proibir o uso de celulares, ignora-se um ponto central: o que faz com que esses dispositivos sejam mais atraentes para os alunos do que a aula em si? Se o ambiente escolar fosse envolvente, interativo e respeitoso, será que os jovens sentiriam tanta necessidade de buscar refúgio em suas telas? Aqui está o ponto de maior reflexão: a verdadeira solução para o problema talvez resida na capacidade de transformar a sala de aula em um espaço que prenda a atenção, estimule o interesse e promova a participação ativa dos estudantes.
A tecnologia, quando bem utilizada, tem um papel enriquecedor no aprendizado. Aplicativos, vídeos interativos e acesso à informação em tempo real podem potencializar a experiência educacional. Ao invés de proibir, por que não ensinar a usar? Uma abordagem pedagógica que inclua o uso consciente de dispositivos pode não apenas evitar distrações, mas também preparar os alunos para os desafios de uma sociedade digital, onde o domínio da tecnologia é uma competência essencial.
Outro aspecto importante é a autoridade do professor. A figura do docente como líder de turma tem sido constantemente desafiada, não apenas pela presença de celulares, mas por uma série de fatores sociais e culturais. A proibição imposta pela nova lei parece ser uma tentativa de restaurar essa autoridade, mas será que isso é suficiente? A autoridade legítima não deve se basear apenas em restrições, mas na construção de uma relação de respeito mútuo. Professores que conseguem envolver seus alunos em diálogos, estimular a criatividade e promover o pensamento crítico conquistam naturalmente a atenção e o respeito, independente de qualquer lei.
Além do impacto educacional, a proibição dos celulares nas escolas também traz reflexos para o mercado publicitário. Assim como ocorre na televisão aberta, onde o anunciante seleciona os horários de maior audiência para veicular suas campanhas, o afastamento de um público significativo dos dispositivos móveis durante os turnos escolares exigirá adaptações estratégicas. Jovens estudantes representam uma fatia importante do consumo digital, e a ausência deles nesses horários pode reconfigurar os investimentos e horários de veiculação publicitária, forçando o mercado a buscar novas formas de interação com esse público.
Por fim, a sanção da lei levanta uma questão ainda maior: por que chegamos ao ponto de precisar proibir o uso de celulares? Não seria mais eficaz criar ambientes onde o aprendizado seja naturalmente valorizado? Proibir pode resolver o sintoma, mas dificilmente aborda a causa. A solução para as distrações em sala de aula não está apenas em legislações restritivas, mas na construção de um sistema educacional que entenda as complexidades do mundo moderno, respeite os alunos como indivíduos e valorize o papel do professor como guia e mentor.
A legislação recentemente sancionada traz à tona debates essenciais sobre tecnologia, educação e cultura. Se de um lado busca corrigir problemas evidentes, de outro, demascara questões estruturais. Resta saber se a escola brasileira aproveitará esta oportunidade para repensar seu papel e construir um ambiente onde a educação se torne irresistivelmente atrativa, e não apenas um local onde o uso de celulares é proibido.
*Carlos Rocha dos Santos, jornalista e professor, especializado em gestão de imagens e marketing institucional.