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Coluna Lígia Fascioni | Por que o empreendedorismo é fundamental
13 de Março de 2017

Coluna Lígia Fascioni | Por que o empreendedorismo é fundamental

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Se você acha que o Facebook só tem fotos de “família feliz e tretas, talvez não esteja seguindo as discussões certas. Estava acompanhando um post que falava de distopias quando alguém citou “A revolta de Atlas”, de Ayn Rand. Até então, só tinha lido as que conhecia como clássicas: “1984” (George Orwell), “Admirável mundo novo” (Aldoux Huxley) e “Fahrenheit 451(Ray Bradbury). Já tinha ouvido falar na Ayn Rand, mas não sabia que essa obra era uma distopia também. Bom, para minha sorte, minha amiga e sócia Nicole Plauto (não por acaso, economista) também estava na discussão e me emprestou o livro.

 

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A revolta de Atlas” é considerado um dos livros mais influentes da história nos EUA; numa pesquisa feita pela Biblioteca do Congresso em 1991, foi escolhido entre os leitores como o segundo livro que mais fez diferença na sua visão de mundo, perdendo apenas para a Bíblia.

 

Aí você devora os três volumes e pensa: como é que essa leitura não é obrigatória em todas as escolas? A gente passa a entender melhor muita coisa que está acontecendo, principalmente o fenômeno Venezuela.

 

Já me encantei logo de início, pois a protagonista é uma engenheira linda, íntegra, inteligente, idealista, maravilhosa. Como a obra foi escrita na década de 1950, apesar da história se passar em um futuro indefinido, toda a estética e o pano de fundo vem desse período: músicas, roupas, cenários, hábitos, tecnologias. Viajei de verdade na trama junto com Dagny Taggart, a heroína tudo de bom.

 

Dagny é neta do fundador da maior rede ferroviária dos EUA, a Taggart Intercontinental. Ela só tem mais um irmão, que é um perfeito idiota. A moça estudou engenharia e é inteligentíssima; dá um show de criatividade para continuar operando as linhas de trem apesar das dificuldades que seu irmão (que não entende nada do assunto) cria, junto com seus amigos empresários e políticos.

 

Ayn Rand, a autora, deixa bem claro quem são os mocinhos (empreendedores, ousados, criativos, disruptores, que fazem o mundo andar) e quem são os bandidos, os supostos “homem de bem (que só pensam no povo, nos direitos, no bem da humanidade, nos pensamentos mais elevados, porém não produzem nada). A maior preocupação dessas almas elevadas que desprezam o lucro (verdadeira maldição) é distribuir o resultado de quem de fato produz. Criam todo o tipo de problema possível para quem realmente quer trabalhar, com os argumentos mais descabidos, mas sempre em prol da igualdade de oportunidades.

 

Por exemplo: os trens da Taggart podem viajar a 160 km/h e as composições podem ter mais vagões por causa da tecnologia usada em seus trilhos; isso é injusto para os concorrentes, que não têm essa vantagem. A fim de promover a igualdade e impedir que apenas uma empresa lucre, a solução que os justos e coerentes “homens de bem, que, infelizmente, ignoram matemática básica, é limitar a velocidade e o número de vagões para todas as companhias. Se uma siderúrgica está produzindo muito e comprando outras unidades, então alguém tem que impedir o lucro enorme que seu proprietário vai ter. A solução é proibir que uma empresa tenha mais de uma fábrica e obrigá-la a vender as demais, a preços que o governo define, para, é claro, outros “homens de bem”. Como eles não sabem operá-las, a produção cai, e a concorrência “injusta fica muito evidente. Solução? Limitar por lei a produção, para que possa haver igualdade de oportunidades para todos. Se os donos das empresas reclamarem, é porque são egoístas. É claro que podem arcar com o prejuízo e lucrar um pouco menos, pois são empresários; então, por definição, nadam em dinheiro. Bom, você pegou a ideia, né?

 

Dagny tenta manter a ferrovia funcionando para transportar carvão, alimentos, máquinas, pessoas e tudo o que é necessário para as coisas andarem, mas os “homens de bem que estão no poder que só pensam no povo, resolvem desviar trens para transportar uma produção alternativa de toranjas de uma pessoa muito boa (coincidentemente amiga de alguns políticos) e que não visa o lucro; por isso, tem prioridade.

 

O que acontece é que as empresas começam a falir uma a uma. As pessoas competentes também não querem mais trabalhar, pois ninguém mais pode ser demitido e o salário é pago pela necessidade, não pela produção. Eis que os competentes viram escravos dos “necessitados, cujas necessidades crescem infinita e exponencialmente. As pessoas começam a se odiar mutuamente, o país entra em colapso. Falta aquecimento, falta comida, mas falta, mais que tudo, perspectivas. Os representantes do governo que assumem as empresas para promover a igualdade chegam a roubar material de estoque para vender no mercado negro (coitados, eles não têm competência técnica e nem inteligência acima da média, então são obrigados a se virar como podem). Trens deixam de circular por falta de pregos, o trigo apodrece nas ruas por falta de transporte, pessoas morrem de frio por falta de carvão para o aquecimento. Mas tanto a imprensa quanto a sociedade têm certeza que a culpa é dos industriais ganaciosos que só visam o lucro e não são capazes de pensar num mundo mais justo.

 

Ayn Rand escreveu a obra para mostrar sua linha filosófica voltada ao liberalismo econômico; há páginas inteiras com discussões bem profundas a respeito do valor do dinheiro e do trabalho, do conceito de igualdade, e do papel de cada pessoa na sociedade. Mas a trama de pano de fundo não fica devendo em nada a um romance convencional com aventuras, riscos, traições, paixões, festas, crimes e tudo que faz o leitor ficar grudado até a última página.

 

Sobre a teoria, ela é um pouco radical, claro, pois é uma teoria, mas em linhas gerais achei muito interessante esse ponto de vista; acredito que com um pouco de equilíbrio, pode ser um caminho e reflete muitas das coisas nas quais acredito. Promover a igualdade de oportunidades é importante sim, mas, como dinheiro não cai do céu e governo nenhum produz riqueza, incentivar (e não atrapalhar) o empreendedorismo é fundamental.

 

Ayn é bastante assertiva com relação ao liberalismo porque nasceu no leste europeu e viu seu país e o pequeno negócio de seu pai (um armazém) ser totalmente arruinados pelo governo comunista. Quando emigrou para os EUA e viu outras possibilidades, desenvolveu uma linha de pensamento apoiada em seus estudos, claro, mas com forte influência de sua experiência pessoal.

 

Em tempos de Netflix sei que vai ser difícil convencer alguém a mergulhar nas 1.227 páginas; vi que já fizeram mais de um filme, mas duvido que tenham prestado, pois colocar a compexidade da trama e da história em, no máximo, 3 horas, é muito complicado.

 

Minha sugestão: faça um esforço para começar a ler. Você vai ver que, no máximo em duas semanas já terá devorado tudo e terá ficado com saudades dos personagens e da história, além de ter adquirido uma visão muito mais ampliada das teorias econômicas.

 

Vai por mim!

***

NOTA: Atlas é aquele titã da mitologia que carrega o mundo nas costas, como, na obra de Rand, os inovadores, produtores, empreendedore; por isso o nome do livro.

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