Olha onde você coloca a mão quando passar por mim
15 de Abril de 2013

Olha onde você coloca a mão quando passar por mim

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Por Carlo Manfroi 15 de Abril de 2013 | Atualizado 03 de Dezembro de 2021

Um dia desses, três pessoas passaram caminhando por mim na rua, em uma calçada estreita. As pessoas não se conheciam, passou uma de cada vez. Era hora do almoço e elas estariam indo, acredito, assim como eu, tratar de abastecer o corpo. Essas pessoas, três estranhas entre si e desconhecidas para mim, tinham uma coisa em comum. Todas elas caminhavam com as mãos nos ouvidos.

Se fosse há décadas, isso poderia indicar um surto de otite na cidade. Mas não era nada disso. As pessoas não estavam com dor nem inflamação no ouvido. Estavam todas falando ao celular. Uma delas, de origem asiática, falava de forma serena. A segunda, uma jovem loira, mantinha uma conversa praticamente pública, tão alto era o volume de sua voz. O terceiro a passar caminhando por mim com a mão ao ouvido estava mais para ouvidor. Nada falava, apenas balançava a cabeça positivamente, acreditando que a pessoa do outro lado estivesse vendo-o. Por último, um rapaz que, para alívio, não caminhava com a mão colada ao ouvido. Mas também não tinha a menor chance de olhar para os lados, acenar para as pessoas ou jogar conversa fora cumprimentando os vizinhos.

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Conversa fora? Ninguém tem mais tempo pra essa delícia do passado. O último rapaz que passou por mim vinha muito ocupado. De cabeça baixa, teclava no celular. Respondia a um e-mail do trabalho ou dava um simples check-in no Foursquare para provar que estava, sim, presente aqui na Terra. Naquele lugar, naquele momento.

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