A morte de Luciano do Valle no último fim de semana trouxe-o de volta à mídia, com o destaque mais que merecido pelo muito que fez pelo esporte na televisão e pela televisão, gerando audiência por meio do esporte.
Mas ninguém fala do Luciano do Valle contato, trabalhando em agência de propaganda. Certamente porque essa é uma passagem de sua biografia conhecida de muito poucos e que nunca foi por ele alardeada. Aconteceu assim:
Meados dos anos 70, a Ziegelmeyer, Pimentel era a agência da vez, crescendo e com grande destaque. Luciano era conhecido de meu sócio e foi a mim encaminhado porque queria trabalhar em agência. Suas atividades, como narrador e âncora de TV, lhe deixavam tempo livre, que ele queria usar como contato. Conhecia muita gente, era muito conhecido, tinha prestígio e isso deveria ajudar, principalmente na prospecção de novos clientes.
Esfuziante, carismático, convincente, eis Luciano do Valle admitido para o Atendimento da agência. Durou muito pouco, porque suas ligações não iam a ponto de convencer a mudança de agência, como atendimento deixava muito a desejar pelo pouco conhecimento do que era uma agência de propaganda e, pior que tudo, seu tempo livre não era tanto assim – viagens, mais que tudo, interferiam, comprometendo sua presença.
Mas foi um período extremamente rico em conhecimento recíproco, o que incluía planos a serem realizados, que ele se encarregou de realizar com grande sucesso. A figura conhecida na telinha da TV era muito menor que a real, pois Luciano era também um empreendedor nato, que via oportunidades onde outros não percebiam, que buscava permanentemente formas de se aperfeiçoar e novas oportunidades, até então não consideradas, no campo do esporte.
Às segundas feiras ficávamos um tempão comentando sua narração do domingo, discutindo as maneiras de comunicar, que não podiam ser iguais ao que era no rádio, narrar tinha agora que ser complemento da imagem, usando-a e não simplesmente mostrando. Isto o ajudou a ser um inovador, um pioneiro nas transmissões do futebol.
Em Fórmula 1, na época pioneira de transmissões, Luciano levava consigo faixas de seus clientes, que colocava em pontos estratégicos dos circuitos. Óbvio que durou pouco, pois nem a FIA nem a Globo iam perder esse faturamento…
Naquela época, futebol e Fórmula 1 eram o que se via pela televisão. E Luciano apostava em vôlei, basquete, sinuca, ginástica, tênis o que fosse de interesse do povo. Interesse que ele sabia cresceria gigantescamente com a divulgação que a TV iria proporcionar. O típico ciclo virtuoso. E foi o que aconteceu, graças à sua visão e persistência, fazendo dele um grande impulsionador do esporte e da televisão brasileiros.
Luciano do Valle, o contato, não foi bem sucedido. E nem precisava, não é mesmo?
