Publicidade
Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada: Nas ondas do rádio.
31 de Dezembro de 2016

Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada: Nas ondas do rádio.

Twitter Whatsapp Facebook

Depois da tentativa frustrada de trabalhar na Lintas, continuei na ENOP com minhas pesquisas de opinião, enquanto Plínio Toni insistia no papel de padrinho, esforçando-se para me encaminhar na propaganda.

“Existe uma oportunidade na Emass. Não é nenhuma maravilha, mas é um começo. Topa?”

Publicidade

“Claro que topo, mas o que é Emass?”

Era um braço em São Paulo dos Diários e Emissoras Associados, o poderoso grupo de Assis Chateaubriand, que dominava a comunicação no país. Representava comercialmente as emissoras de rádio do Grupo, gerando o que provavelmente era a sua maior fatia de verbas de publicidade, dada a concentração de anunciantes nacionais na praça.

Mas essa não seria minha primeira experiência no rádio. Bem antes, ainda garoto, outro primo me levava a conhecer como funcionava uma “estação”. Roberto Assaf, com o nome artístico Roberto Assis, era o principal “speaker” da Rádio América, uma das primeiras emissoras de rádio fundadas em São Paulo que, entre outras particularidades, ostentava o salão azul, onde aconteciam apresentações de shows, peças de teatro, filmes e bailes. Assim era o rádio na sua fase áurea, oferecendo bem mais que programas radiofônicos.  Roberto ancorava um noticioso diário, que acabava com “A foice e o martelo”, uma crônica política desenvolvida na forma de diálogo entre as duas ferramentas símbolos, que ele fechava com uma frase de efeito – “e o martelo, foi-se”.  Havia um grande microfone à sua frente, que eu respeitosamente encarava, sentadinho, super atento. Terminado o noticioso, entrava um programa de música portuguesa com Nuno Madeira e eu ia comer uma pizza com meu primo.

A popularidade e o prestígio que hoje desfrutam intérpretes, âncoras, apresentadores e repórteres da TV eram naquela época dedicados aos que atuavam no rádio. Meu primo era um dos que faziam sucesso e então, em minha mente se desenhava o sonho precoce de trabalhar no rádio, ser um deles. Até porque, o rádio sempre participou de nossa vida em família: almoçávamos todos os dias, meus pais e eu, ao som do “Concerto do meio dia”, na Rádio Gazeta; à tarde ouvia “O Vingador” ou “Jerônimo o herói do sertão”; depois “A Escolinha da Dona Olinda” do Nhô Totico, que existia bem antes de Haroldo Barbosa criar a “Escolinha do Professor Raimundo“, com Chico Anysio, que mais tarde iria transformar o programa no grande sucesso de TV que conhecemos. À noite nos reuníamos em torno do rádio para ouvir, em ondas curtas, as notícias da guerra. Uma vez por semana ouvíamos “Repto aos enciclopédicos“, programa de temas eruditos, e aos domingos era a vez do “Cinema em casa” de Walter Jorge Durst. “PRK-30” e “Edifício balança, mas não cai” eram os humorísticos. Rádiodramaturgia, musicais, shows, programas de calouros (domingos de manhã ia assistir Homero Silva e seu Clube Papai Noel no auditório da Rádio Tupi), o rádio era um manancial de entretenimento e cultura.

E agora eu estava prestes a entrar para o mundo do rádio.

Só que, distante do sonho de criança, o papel que me foi oferecido era muito pouco charmoso e jamais me levaria a ser aclamado como astro: minha tarefa diária consistia em ler muitos jornais, assinalando as notas de mídia espontânea que os programas geravam e que eram posteriormente encaminhadas aos patrocinadores. Não havia um microfone na minha mesa, apenas pilhas de jornais e canetas.

Mas o fato é que assim conheci muitos diários de todo Brasil, o que foi muito útil, e aos poucos ia aprendendo com Humberto Gargiulo, jornalista e diretor dos Diários e Emissoras Associados, que dirigia a Emass antes de, em 1960, fundar a SEARA (Serviços Associados das Rádios). Seu segundo, Moreira, a quem eu respondia diretamente, deu-me uma oportunidade inesperada pouco antes que completasse minha permanência de seis meses no rádio.

Isso fica para a próxima coluna. Te espero lá.

Publicidade