Publicidade
Série Entrevistas com fotógrafos de publicidade – Philippe Arruda
06 de Março de 2014

Série Entrevistas com fotógrafos de publicidade – Philippe Arruda

Twitter Whatsapp Facebook

PhilippePhilippe Arruda construiu sólida carreira ao longo de 20 anos, atuando no mercado catarinense e de outros estados. É formado em Jornalismo e fotógrafo de profissão – especializado em fotografia publicitária – com trabalhos publicados no Brasil e no exterior. 1° o fotógrafo mais premiado da última edição do Clube de Criação de SC. Fez exposições individuais nas principais capitais brasileiras, na França e na Alemanha.

 

Publicidade

AcontecendoAqui: Como você se tornou fotógrafo e o que te motivou a optar pela profissão?

Philippe Arruda: Eu tenho uma formação profissional e pessoal meio heterodoxia: iniciei Administração de empresas, passei para Engenharia Mecânica, onde cursei 4 anos, transferi para História e me formei em Jornalismo na UFSC. Esses foram meus 10 anos de formação acadêmica. Na verdade eu transformei em hobby a fotografia, que descobri durante o curso de engenharia em profissão, por isso fiz Jornalismo, que na época era o único curso com  cadeiras de fotografia, por isso já entrei focado e sabendo oque iria fazer para sobreviver.

Em paralelo fui me especializando em fotografia publicitária, fazendo diversos cursos e workshops em São Paulo, mas nesta épocas em que não existia internet, a formação profissional era muito mais vivida e experimentada, por isso  comecei  logo a trabalhar e em 1987 fui para os EUA para comprar meu  primeiro equipamento profissional uma Canon EOS 620, que foi a primeira câmera com auto focus lançada no mundo, o que era uma revolução, voltei e lembro que fui criticado pelos profissionais da época por estar me rendendo a novas tecnologias. Em seguida  fundei meu primeiro estúdio fotográfico com um sócio, o Marcelo Meyer, que coincidentemente tinha sido meu colega da Mecânica. No início transitei pelo foto jornalismo, sendo editor de fotografia da Revista Expressão e fazendo alguns freelas para  jornais e revistas nacionais. Mas a publicidade me fascinava e cada job era um desafio e um experimento novo.

Em 90 me formei e meu trabalho de conclusão de curso foi um audio visual sobre a cultura indigena chamado Vida e Arte no Xingu, em parceria com jornalista Marcia Carvalho. Para o lançamento do Audio Visual fiz um exposição fotográfica que percorreu as principais capitais do Brasil, França e Alemanha. Neste momento as portas se abriram e parti para a carreira solo, montando o Philippe Arruda Photo Agência, onde  produzi por 15 anos até transformá-lo na Over Digital, que está completando 5 anos, com meu sócio Kiko Santos e mais 10 colaboradores.

 

AAqui: O que a fotografia significa além do cenário e do clic?

PA: Fotografia é história pura. Sem perceber enquanto fotografamos estamos documentando uma época, é a realidade nua e crua sendo contada com imagens. Mesmo as produções publicitárias, com todo o glamour e fantasias, fazem parte da história, do comportamento social. Fotógrafos são historiadores.

 

AAqui: Que tipo de fotografia desafia mais um profissional como você a buscar o novo?

PA: A fotografia autoral para mim é o grande desafio. Quando trabalho com Fine Art, ou produzo alguma exposição, sempre estou procurando o diferente o novo, pelo menos para mim, por isso desenvolvo um tema e vou para atrás da câmera, tentar transformar em imagens o que passa na minha cabeça. Não existe referências nem layouts, só a ideia. Foi isso que aconteceu com  a Mostra Sonhos da Alma, que será exposta em Maio, na Galeria do Luciano Martins, em Florianópolis.

 

AAqui: Você tem uma expertise ou um segmento de mercado onde atue mais?

PA: Se publicidade pode ser considerado um segmento, essa é minha expertise, parece meio presunçoso, mas eu explico: fotografo profissionalmente há mais de 20 anos, onde não existia segmentação, ser fotógrafo já era o diferencial, então precisei dominar todas as áreas. Hoje, atuo mais na produção de catálogos.

 

AAqui: Qual segmento é o mais complexo na hora de produzir uma fotografia?

PA: Moda.

 

AAqui: Qual seu principal concorrente? O outro fotógrafo do seu nível ou os bancos de imagens?

PA: Sem dúvidas, hoje, os bancos de imagens dominam o mercado.  É possível comprar imagens em alta qualidade entre  U$5 e U$50. Não há exclusividade com estes preços, mas os custos justificam tudo. Acredito que 70% das campanhas publicitárias produzidas hoje utilizam estes caminhos. Este é um caminho sem volta, por isso que há 5 anos montamos a Over Digital, especializada em tratamento de imagens, para poder continuar trabalhando neste meio, outra coisa é que hoje não existe foto sem manipulação, podemos discutir o quanto uma imagem foi alterada, mas sem retoque é mentira.

Ainda existem os seguimentos que continuam produzindo fotos, são seguimentos com coleções que são lançados todos os anos, pois hoje tudo é tratado como moda: ramo cerâmico, têxtil, calçados, acessórios para casa, móveis, alimentos. A moda como produto é que mantem o fotografia viva.

 

AAqui: Considera importante estudar fotografia ou o dia a dia resolve?

PA: Sou acadêmico convicto e de formação. O estudo é a parte fundamental da fotografia. É preciso saber  criar e defender uma ideia. Para desconstruir uma imagem, tenho que saber os princípios da construção. O trabalho fotográfico precisa ter consistência, e isso só aparece com a bagagem cultural de quem faz o clic. Temos referências fotográficas, que são o ponto de partida, a verdadeira essência fotográfica, tais como: Man Ray, David Bailey, Richard Avedon, Irving Penn, Helmut Newton, David La Chapelle, Henri Cartier-Bresson, Sebastião Salgado, Uwe Ommer, entre outros. Vamos estudar.

 

AAqui: Qual a sua opinião sobre a lei brasileira que garante os direitos autorais dos fotógrafos?

PA: A fotografia é protegida por Lei. Ela é considerada obra intelectual, e como tal está protegida pelo art.7, inc VII da Lei 9.610/98. É bom lembrar que essa lei garante os direitos patrimoniais ao cliente, dependendo do contrato, e nunca os direitos morais, esses são inalienáveis. Teoricamente estamos protegidos, mas a realidade do mercado não é bem essa.

 

AAqui: Lugar ou pessoa que fez a diferença na hora da foto?

PA: Fui fazer um trabalho autoral na favela Frei Damião, na Palhoça, pois o local era sofrível e eu queria mostrar essa realidade. Chegando lá encontrei umas crianças brincando no lixo e no esgoto que corre a céu aberto. Fui conversar com elas e descobri umas caras maravilhosas, que virou a mostra Infância Roubada, que são só retratos. A expressão humana o olhar ainda fazem a diferença.

 

AAqui: As agências de propaganda de Santa Catarina valorizam a boa fotografia nas suas campanhas?

PA: Está cada vez mais raro as grandes campanhas, e são nestas oportunidades que o fotógrafo faz a diferença. As agências sempre primam pela boa fotografia, mas a boa fotografia não é ter um bom equipamento, mas sim, um bom fotógrafo e uma boa equipe de pré e pós produção e isso tem um custo, que nem sempre condiz com a verba do cliente. Nesta hora entra o fator realidade, que é saber o que se pode fazer de melhor com a verba existente, para se obter o melhor resultado, que sempre tem que ficar melhor que a referencia do layout, que geralmente é de alguma campanha mundial, que custo alguns milhares de dólares.

 

Confira algumas imagens do trabalho de Philippe:

Frei Damiao_103

SANTUR_MULHER_Viagem & Turismo_41,60cm x 27,40cm

sonhos_da_alma _1833

 

Publicidade