As fotos foram produzidas por Letícia Dorneles
Esta entrevista foi realizada pelos jornalistas Letícia Dorneles e Nícolas Horácio, ambos do Estopim Coletivo, e gentilmente cedida para exibição aos leitores do AcontecendoAqui. Trata-se de uma conversa com o jornalista Hélio Costa, candidato a deputado federal recordista de votos em 2018. Ele fala sobre os anos na imprensa e a atividade parlamentar.
Hélio Costa é apresentador de rádio e TV com mais de 40 anos de atuação nos principais veículos da imprensa catarinense. “Em 2018, foi candidato a Deputado Federal e recebeu um caminhão de votos. Mais de 179 mil eleitores confiaram em Hélio, que foi o deputado federal mais votado naquele ano em Santa Catarina”, conta Nicolas Horácio.
Nesta entrevista, Hélio Costa conta porque colocou a Rádio Guararema na justiça, fala da sua estreia como apresentador de TV, explica porque recusou o convite para trabalhar na Globo e porque resolveu entrar na política. Depois da votação recorde, Hélio Costa explica o que pretende fazer na Câmara dos Deputados; fala da sua experiência como parlamentar, comentando os assuntos que tramitam na casa, como a Reforma da Previdência.
Hélio, queremos começar lá no passado, na época em que a dona Jovelina e o seu Francisco ditavam as regras. O que eles transmitiram de valores essenciais para você?
Muito respeito aos outros. Estudar… Eles me passaram tudo, nós éramos uma família pobre, eu não passei fome, mas fui um garoto mal nutrido. Comecei a trabalhar aos 11 anos, de cobrador de ônibus, na Empresa Florianópolis, mas eu não gostei, desisti. Trabalhei 30 dias só e me mandei. Não tinha catraca central, então, muita gente passava sem pagar e eu tinha que pagar. Fiquei 30 dias lá e não quis mais.
A mãe queria que eu fosse mecânico e me colocou de aprendiz na oficina de lataria. Mas daí eu via aquela gurizada indo jogar bola, brincar e eu disse: “mãe, não vou mais, não! Não quero ser mecânico, não.” Eu tinha 12, 13 anos.
E ela [a mãe de Hélio] disse: “não queres ir, não vai.”
Qual a profissão dos seus pais?
Minha mãe era lavadeira da Escola de Aprendiz de Marinheiro e meu pai era funcionário público. Ele era vigia, mas fazia de tudo.
Aos 14, comecei a trabalhar na empresa Gilmar Henrique Becker Materiais de Construção, em Florianópolis, no setor de cobrança. Depois fui pra Felipe Cia, aí fiquei até 18 anos, quando me alistei no Exército.
Quanto tempo você ficou no Exército, isso mudou sua cabeça?
Fiquei um ano e um mês. Mudou minha vida, porque fui para Brasília. Fui pra Cavalaria. Cavalo, aqui, só via em carroça, nunca me aproximei de um cavalo e peguei o Esquadrão Hipo. Tinha que tomar conta dos cavalos, um trabalho tremendo.
Depois, abriu vaga para o 4º batalhão, aí pediram voluntário, eu fui. Ninguém saía do Esquadrão Hipo, um Regimento de Cavalaria de Guarda, os Dragões da Independência. Fui para o esquadrão motorizado, que fazia a Cerimônia do Planalto às segundas e quartas-feiras.
Participei de cerimônias, na época, do Geisel e do Médici. [Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel foram presidentes do regime militar do Brasil de 1969 a 1974 e de 1974 a 1979 respectivamente].
O Figueiredo tinha sido comandante do meu quartel, mas quando eu cheguei ele tava saindo. [João Figueiredo, último presidente do regime militar do Brasil, de 1979 a 1986]. Foi promovido a Coronel e estava saindo. Foi para o SNI [Serviço Nacional de Informações].
Eu queria ficar em Brasília, mas não deu. No começo era uma loucura, sentia saudades de casa, queria passar na barra da saia da mãe, família pobre, mas unida e limpinha. No total, dez irmãos, porque meu pai casou três vezes. Ele ficou viúvo nas duas primeiras. Tenho irmã de 93 anos, outra de 90, dos casamentos anteriores do meu pai. Minha mãe criou praticamente todos do segundo casamento.
Depois do Exército, Hélio, o que vem?
Depois comecei a trabalhar [em Florianópolis] em algumas empresas, mas era sempre muito chegado em rádio, porque a minha mãe ligava o rádio 6h para ir trabalhar. Eu ficava ouvindo.
Depois, a minha irmã casou com um radialista, o Murilo José, que é pai do Carlos Eduardo Lino e do André Lino. O Carlos Eduardo está no Rio de Janeiro, no SporTV, e o André está fora atualmente, mas pertenceu ao núcleo da SporTV aqui.
Comecei a frequentar rádio, de jacaré, ficava olhando. No meio dos radialistas, chama-se de jacaré quem fica olhando os caras fazer rádio.
Geralmente, o começo é de operador de áudio, mas não trabalhei de operador, comecei como repórter e apresentador de disc jockey, apresentando programa de rádio.
Depois, eu fui pra TV Eldorado, de Criciúma, trabalhava para a sucursal aqui [em Florianópolis] e trabalhava na Rádio Guarujá. Tinha saído da Rádio Jornal Verdade, onde era jacaré, e já tinha feito também alguns programas, como o Loteria Musical.
Fui trabalhar na TV e fui chamado pela Globo, pela TV Catarinense, não era nem RBS, era TV Catarinense. Eu ganhava 6 mil, na época, e o teto da RBS era 5 mil e eu disse não.
“Ah, mas Porto Alegre manda pra cá esse teto.”
Eu ia entrar no lugar do Valter Souza, que ia para Geral. Ofereceram 48 horas pra eu pensar, mas eu não quis. Naquela época, tinha gente que trabalhava de graça para segurar o microfone da Globo. Pra mim não interessa, mil reais faz diferença, era o meu aluguel, eu tinha casado. Se eu mostrar o crachá da Globo, não vai fazer diferença nenhuma, aí não aceitei.
Também fui o primeiro a botar empresa de telecomunicação na justiça: a Rádio Guararema, porque foram injustos comigo. A Rádio Guararema era da Rede Eldorado de Comunicações, que tinha comprado a TV Cultura aqui. Aí eu fui pro SBT, pra fazer o Aqui e Agora e não podia fazer o dia a dia dos clubes, só ser repórter de campo. Aí queriam diminuir meu salário, um cara que eu tinha ajudado a colocar de gerente.
O Roberto [Roberto Alves] e o Miguel [Miguel Livramento] disseram aceita, te demite e vai trabalhar por cachê. Aí trabalhei um jogo, até não cobrei o cachê. Peguei as escalas de jogos que eu transmitia e levei para um advogado. Eu guardava as escalas, era uma prova que se eu precisasse, no futuro, eu tinha e serviu. Só não cobrei a função de motorista. Cobrei diária e hora extra, a de motorista não cobrei. Eu dirigia, porque eu exigia, não gostava de andar de carona. Fui o primeiro [a processar], depois que abri a porteira, entrou um monte.
Quando foi sua estreia como apresentador?
Foi com o César Souza? O programa era da TV Barriga Verde. Ele nunca me chamava, porque eu ganhava mais e pedia bem. Se não pagasse aquilo que eu pedia, eu não ia.
Eu era funcionário da TV Barriga Verde no tempo bom da Perdigão, que era a TV mais bem equipada de Santa Catarina, dava de uns três a zero na TV Catarinense. Fiquei ali trabalhando, cheguei a fazer jornal no antigo Diário Catarinense dos Diários Associados, mas não me ambientei, meu negócio era rádio e TV. Cheguei a fazer coluna também no Notícias do Dia, eu e o Colombo [jornalista Colombo Souza].
Por que você resolveu de repente abdicar desses 41 anos de jornalismo e vir para a política?
Eu já tinha tempo para me aposentar como jornalista e senti que o país tinha que dar uma mudada. Não iria ser eu que iria mudar o país, mas lá iria fazer leis de verdade. Temos dois, ou três projetos encaminhados.
É interessante também participar das Comissões. Plenário é para votar e fazer uso da palavra. Já fiz três vezes, mas o bom é trabalhar nas Comissões.
Sou da Comissão do Idoso, porque pedi, e de Segurança e Combate ao Crime Organizado, e me colocaram também na Comissão de Viação e Transportes, que é importante também.
Lá a gente encaminha projetos de lei, discute os problemas do Brasil na área de Segurança.
Hélio costa candidato a deputado federal em 2018
Queremos abordar as comissões, mas antes, falar sobre o período eleitoral. Você viu problemas no processo?
Não vi problemas. Eu tinha a sensação que ia me eleger. Fiquei 5 anos em primeiro lugar. Botei a Globo na Série B. Provoquei várias reuniões na RBS.
Eu batia uma média de 5 fotos quando saía na rua, ia gravar delegacia, e notava aquela admiração, aquele respeito que o povo tinha por mim, que eu tinha por eles também, porque quando cheguei na TV, no SBT, eu abri a janela da TV e botei o povo para dentro, não era como os outros faziam, com release. O que eu estendi de cabo de energia elétrica e de cano da CASAN para levar água pro morro, uma grandeza.
E também, nesse período, tinha muita oferta de propina. Eu dizia para os caras: “oh, quem tá pedindo não é o Hélio Costa, quem tá pedindo é a comunidade.” Só faço matéria com mais de dez, para um só, não. “Diz para o teu chefe, que ele vai ter duas mídias, ao dizer sim e ao fazer a obra.”
Eu sentia o respeito da comunidade e isso me dava a sensação de que ia eleger. Mas saí sem cabo eleitoral, sem vereador, sem prefeito, sem nada. Nada, nada. Tinha uma agência, que foi paga pelo fundo partidário, e não foi tão caro, gastei 700 mil na campanha toda.
A gente saía e meu filho que é formado em Publicidade e Propaganda disse: “pai, vais ter que sair de paletó e gravata, essa marca que o cidadão tem de ti. Se tu sair de camisa, com manga dobrada, eles vão achar que pode ser o Hélio Costa, mas não vão acreditar.”
No dia da votação, fui votar no Colégio Catarinense, eu e minha mulher, fomos perto do meio-dia, para não pegar muita fila. Tem candidato que vai cedo e fica parado ali, pra ser visto. Eu votei, passei no restaurante e falei pra minha mulher: “vou tomar uma cervejinha legal”. Quando bebo, me dá sono, aí fui para casa e dormi. Cheguei era umas 16h e acordei deputado.
Acordei deputado e o mais votado. Pulei oligarquia, pulei os milionários, pulei tudo, tudo que tinha para pular de superior a mim: grana, nome político, pulei tudo, caí do outro lado, com um caminhão cheio de voto.
Recentemente, o senhor se encontrou com o general Mourão. O que foi discutido? Sobre o que falaram?
Fui para conhecê-lo. Ele me convidou para assistir a palestra dele, na Acaert. [A entrevista do Estopim Coletivo foi gravada um dia antes da palestra do vice-presidente General Hamilton Mourão na Acaert, encontro exclusivo para convidados].
Quando me encontrei com ele, não levei nada. Foi muito bom. Me surpreendeu. Muito inteligente. Não tem general burro. Muito inteligente e gostei de conversar com ele. Não pedi nada, não pedi força, porque eu vou buscar. Eu corro muito Ministério em busca de soluções para Santa Catarina. Acho que os políticos de 40 anos atrás não trabalhavam por Santa Catarina.
Agora foi criado aqui o Fórum Catarinense, achei uma grande ideia. Todo mundo discute os assuntos de Santa Catarina para levar para os Ministérios. O Fórum é o conjunto dos 16 deputados federais e dos 3 senadores.
Deputado, o senhor é titular da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado na Câmara. Como tem sido seu trabalho nesta comissão? O que o senhor tem puxado? O que tem sido discutido?
Primeiro que eu já botei a boca, já falei alto lá dentro, porque sempre tinha um número mínimo para dar quorum. É assim que se trata Segurança na Câmara? Para começar, tem que esperar os caras chegarem, mas o pessoal também participa de outras Comissões também tem isso, mas xinguei.
Segurança hoje é um problema do Brasil e discutem muita coisa é necessária, mas não é urgente e o Brasil tem que ter medidas urgentes.
O que mais o senhor defende em termos de Segurança?
Tem a Lei de Maioridade Penal. Um cara de 17 anos comete um crime, ele já tem filho, já tem mulher, é ato infracional. Pra mim, é crime, mas está no ECA, que é ato infracional. Se o cara de 17 anos optou pelo crime, ele não vai mais sair, não adianta botar no internato, que ele não vai sair. E o tráfico se aproveita disso.
Os prefeitos aqui foram lá em Medellín, na Colômbia, e em Bogotá. Lá deu certo, mas lá a polícia não ia sozinha. O governo subia e fazia a parte social, a parte de Educação, da Saúde. Não adianta só subir com polícia no morro. O cidadão tem que ver o governo lá.
A polícia tem que ter inteligência. Tem que estar na frente do crime, ela está atrás. E tem que parar o consumo de drogas. É muito viciado, muito viciado. Tem quadrilha organizada, porque tem demanda. E não é o pobre, é o rico. O Brasil todo vai cheirar no Rio de Janeiro. E aquele que cheira não vai lá no morro comprar, ele espera no hotel.
Deputado, Reforma da Previdência. O senhor disse que estudou o texto da Reforma e votou a favor do texto base. Qual sua opinião sobre esse tema? Por que é a favor?
Eu comecei a falar dos professores, queria tirá-los [da Reforma], melhorar a situação que veio do Palácio. BPC não é Previdência, é assistência, pra que mudar? “Ah não, daqui 4 anos ele volta a ter salário mínimo.”
Nesses 4 anos ele já pode ter morrido, se for carente. É um salário mínimo e ia passar para 400 reais. E o remedinho dele? E o pequeno agricultor? Não o cara que faz parte da Frente Parlamentar de Agricultura, esses são milionários, têm milhões de hectares de terra, mas aquele pequeno trabalhador rural, que criou os filhos ali na agricultura familiar, não teve como assinar carteira, não tem sindicato, vamos deixar na mão?
Os policiais tinham que ter benefícios para cuidarem de nós, não poderia botar na vala comum, mas nós conseguimos tirar policiais e professores.
Hélio Costa nas eleições de 2020
O senhor é pré-candidato a prefeitura de Florianópolis?
Eu sou candidato. Sou candidato, mas a disposição do partido, vamos discutir.
Tem essa vontade, então, de ser prefeito?
Florianópolis falta projeto de cidade. Planejamento direitinho, programa de governo. Quem ganhar a prefeitura vai executar aquele plano. Plano Diretor eles mudam todo ano. É uma desordem.
Eu acho que Florianópolis tem que ter um helicóptero para acompanhar onde tem ocupação irregular, pra ir lá tentar coibir, porque depois que a casa tá feita e tem gente morando, não dá pra tirar. O cara não foi pra lá porque quer, foi por necessidade. Mas tem os aproveitadores, os grileiros. Os caras que fazem a casinha pequenina e vendem. Tem isso, porque o que mora na casa foi por necessidade.
Vocês têm feito conversas para formar alianças em 2020?
Me procuram, eu não procuro ninguém. Vários partidos políticos me procuraram, são conversas. Se eu fosse prefeito, não teria essa secretariada que tem, esse monte de secretário. Tem que enxugar tudo, tudo mesmo. Vai ter que ser bem enxutinha. Vereador não pode mandar na prefeitura.
Foto: Andreza Oliveira