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ARTIGO | Convicção ou Conveniência? O papel das pequenas empresas na inclusão racial
04 de Agosto de 2020

ARTIGO | Convicção ou Conveniência? O papel das pequenas empresas na inclusão racial

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*por Jandaraci Araújo 

 

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O ano de 2020 está sendo bem desafiador para todos. Grandes e pequenas empresas estão tendo que se reinventar diante de um cenário de crise na saúde e na economia. E, você deve estar se perguntando, por que com tantos assuntos práticos do meu negócio para pensar, ainda tenho que discutir sobre diversidade e inclusão racial?

Todos ou quase todos, acompanharam as manifestações recentes nos Estados Unidos, em decorrência do assassinato de George Floyd, um vídeo de 8 minutos e 46 segundos, fez as pessoas despertarem para um problema que ainda não foi resolvido, nem lá e nem aqui. A pauta da luta antirracista e o desencadeamento de várias declarações de apoio à causa ganharam às redes sociais, foram posts pretos, hashtags e ações, como, por exemplo, o takeover — troca de perfis entre pessoas negras e pessoas não negras famosas, de artistas a CEO’s.

Grandes empresas nacionais emitiram notas de apoio à causa racial e algumas multinacionais anunciaram fundos de investimentos contra o racismo. Para além do discurso, vale ressaltar que a questão racial no Brasil é também uma questão econômica. E nesse ponto as pequenas e médias empresas, são fundamentais na pauta de diversidade racial e na construção de um país mais igualitário. Escurecendo o racional a partir de duas premissas básicas, não há progresso sem inclusão e não há mais como ignorar o poder de consumo da população negra.

De acordo com a pesquisa, realizada pelo Instituto Locomotiva, a população negra representa 40% do consumo no país, o equivalente a R$ 1,09 trilhões anuais. Na perspectiva de negócios, excluir ou ignorar esse mercado, é no mínimo insensatez. Com tudo isso, as demais estatísticas sobre a população negra/parda, que apesar de serem negativas, mostram o tamanho da oportunidade que a diminuição das desigualdades apresenta para os negócios e para o país. Vejam alguns dados:

63,7% dos desempregados são negros ou pardos;
53,6% das famílias são chefiadas por mulheres negras
Uma mulher negra ganha em média 60% a menos que um homem branco
Você deve estar pensando a essa altura do texto — “Mas, isso é um assunto para o governo resolver. Eu só quero vender e ter lucro.” Ledo engano, ledo engano. Propósito e lucro andam de mãos dadas. E se ainda não se atentou a isso, corre, pesquisa, estuda, que ainda está em tempo. Politicas de ações afirmativas de inclusão racial, podem contribuir de forma significativa na inserção de pessoas negras no mercado de trabalho formal, afinal as pequenas e médias empresas são responsáveis por 54% dos empregos formais no país. E acredite, não precisa grandes investimentos para agir em prol da diversidade. Algumas ações que podem fazer a diferença:

Faça um diagnóstico da sua situação, avalie quantas pessoas negras/pardas fazem parte da sua equipe. E garanta diversidade no perfil dos candidatos, quando tiver um processo de seleção. Lembrem-se, empresas diversas são mais inovadoras e lucrativas.

Mapeie na sua relação de fornecedores seja de serviços ou produtos, quantos são negros. Contrate de empreendedores negros. Compre de empreendedores negros.

Não importa qual o seu negócio, treine sua equipe para que não cometam atitudes racistas com clientes ou possíveis clientes. Defina uma política clara de combate à discriminação no ambiente de trabalho. O prejuízo por um não atendimento ou um atendimento errado pode ser imenso. Várias vezes deixei de comprar ou consumir um serviço, simplesmente por um olhar torto da vendedora ou por ser solenemente ignorada em lojas, clinicas de estética, etc.

Busque aprender mais sobre a pauta racial, conheça o movimento-Não me vejo, não compro. Leia sobre capitalismo consciente e se inspire. Livros para ler e perfis para seguir:

  — Manual Antirracista – Djamila Ribeiro

  — Racismo Estrutural – Sílvio de Almeida

  — Escravidão — Laurentino Gomes

 — Empreendedorismo Consciente — Rodrigo Caetano e Pedro Paro

A inclusão da população negra é uma escolha, não importa o porte ou segmento de atuação da empresa. Se o processo será por convicção ou por conveniência, só há uma certeza que o momento é agora. Só um último alerta, não pratique o diversity washing -“maquiar” ou criar uma imagem positiva sobre o tema, ou o tokenismo — prática de fazer apenas um esforço superficial ou simbólico para ser inclusivo para membros de minorias. O efeito rebote pode ser pior.

 

*Janda é Diretora Executiva do Banco do Povo Paulista – primeira mulher desde a sua criação em 1997 a ocupar o cargo -. Acaba de ser convidada por Hugo Bethlem para ser Conselheira Emérita do Capitalismo Consciente Brasil.  Também é palestrante, professora de Finanças Corporativas de pós-graduação e consultora. Possui MBA em Finanças e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. Se especializou em Gestão Estratégica pela Business School e Inteligência Competitiva pela ESPM São Paulo. Janda é conselheira da Women in Leadership in Latin America (WILL), ONG voltada para o empoderamento feminino nas organizações e voluntária no Grupo Mulheres do Brasil e Embaixadora do Mulheres do Varejo. Atua também como diretora financeira da Aristocrata Clube. Coordena o programa Empreenda Rápido, que promove capacitação empreendedora, formalização e microcrédito. Ano passado, palestrou na TEDxSão Paulo. Em setembro, lançará o livro “Mulheres nas Finanças”, pela editora Leader, onde contará sua trajetória e experiências

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