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Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada: Julio Ribeiro
09 de Fevereiro de 2017

Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada: Julio Ribeiro

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O ano de 1958 foi muito importante em minha vida por várias razões, como veremos. Precisava urgentemente de renda e estava conseguindo: tinha começado em meu segundo emprego formal, na Grant Advertising, agência multinacional que, em São Paulo, tinha como principais clientes General Electric, divisão de eletrodomésticos, e Caterpillar. Geraldo Santos me alocou na conta da Caterpillar onde, depois de um curtíssimo treinamento, me levou para a apresentação formal do novo contato. Foi a primeira e última vez que fui lá acompanhado. Depois disso, sempre por conta própria o que, pensando hoje, foi uma temeridade, pois o novo contato era verde, estava começando. Havia muita demanda como, por exemplo, um grande evento para a imprensa, no qual tivemos participação importante na produção e divulgação. A empresa estava expandindo sua operação no Brasil e era um momento de grande atividade e responsabilidade.

Dediquei-me intensamente e felizmente consegui desempenhar com sucesso meu papel, merecendo inclusive um elogio formal do gerente de marketing para minha diretoria.

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Mas sabe quem era o tal gerente de marketing? Julio César Ribeiro. Sim, o mesmíssimo Julio Ribeiro, que depois criou a Julio Ribeiro Mianovitch, Casabranca e, em 1980, a Talent, uma das mais eficazes e criativas agências brasileiras, responsável, por exemplo, por slogans famosos como “Não é assim nenhuma Brastemp” e “Bonita camisa, Fernandinho“, este para a USTOP. Hoje é Talent Marcel, associada à francesa Marcel. Julio Ribeiro, todos sabem, angariou o conceito de um dos mais destacados e talentosos profissionais do mercado brasileiro, especialmente na área de planejamento. E eu tive a honra de ser seu contato naquele começo para nós dois.

Foi ele quem me fez sentir, ainda nos primeiros passos na propaganda, o golpe de perder uma conta. Fui chamado para uma reunião e ouvi mais ou menos o seguinte:

“Estou falando com você antes de comunicar sua diretoria, para dizer que nossa decisão nada tem a ver com sua atuação, que merece os maiores elogios. Acontece que há um desgaste na relação entre agência e cliente, coisa antiga, o que nos leva a trocar de agência. Por favor, não diga nada para o Sutherland (que, vindo do Rio, havia substituído Geraldo Santos), quero fazer isso formalmente numa visita amanhã.”

Essa ruptura, sempre muito traumática, voltaria a acontecer na minha carreira, tanto como agência ou como cliente.

Outro destaque nessa primeira agência foi com a GE. Como Geraldo nos incentivava a estar sempre pensando e experimentando em outras áreas que não exclusivamente a nossa, ele mesmo um grande redator além de gestor, fiz uma incursão na criação. Levei a ideia para o Geri, que gostou e desenvolveu o layout a partir do meu texto. Era um anúncio de duas páginas – na primeira, uma geladeira GE, de onde uma mulher havia tirado garrafas que conduzia para a segunda página, onde pessoas estavam diante de um televisor GE. Para minha empolgação, o anúncio foi aprovado e publicado em Seleções. Eu já não era apenas contato, era também redator, criava anúncios. Para quem estava no comecinho de carreira, era a glória.

Mas Geraldo Santos havia deixado a Grant, veio Sutherland e depois Donald, perdemos a conta da Caterpillar, o clima na agência não era o mesmo, eu estava desestimulado…

No final daquele ano meu pai faleceu aos 67 anos. Embora fosse esperado, pois passara um longo período doente numa cama, não deixou de ser muito traumático. Filho único, eu passava a ser responsável pela família e agradecia a Deus por ter condições de mantê-la, embora com todas as restrições que se possa imaginar. A dor da perda era amenizada pela consciência de que não estávamos no zero.

Chegou 1959 e minha vida mudou radicalmente, como vou contar na próxima coluna. Espero você lá.

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