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Coluna Inovação | Até a Copa do Mundo pode nos estimular a pensar (e fazer) diferente
22 de Junho de 2018

Coluna Inovação | Até a Copa do Mundo pode nos estimular a pensar (e fazer) diferente

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Por Fabricio Umpierres Rodrigues 22 de Junho de 2018 | Atualizado 22 de Junho de 2018

Imagem: ® AP Photo / Victor Caivano

“O futebol é um jogo que se joga com o cérebro” (Johann Cryuff)

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Em época de Copa do Mundo, tudo acaba virando motivo para falar de futebol. Até mesmo os temas corriqueiros aqui na coluna – inovação em modelos de negócio, economia, comportamento, na formação profissional etc – podem encontrar um paralelo com aquilo que acontece nos campos da Rússia. Dá pra voltar no tempo e pegar o exemplo da Holanda de 1974, com seu “futebol total” e jogadores que se movimentavam por todos os espaços no campo destroçando as defesas adversárias. Uma lição e tanto de “disrupção” que deveria ser estudada por todo mundo que procura inovar ou (perdão pela expressão banal) pensar fora da caixa.

Quando falamos em Copa do Mundo, somos extremamente conservadores. Queremos – ou ao menos esperamos – todas as grandes seleções vencendo seus jogos e disputando o título. Acreditamos que os craques dos grandes clubes europeus serão decisivos e que equipes neófitas, como uma Islândia, não conseguirão passar de fase. Achar que um time diferente, uma Bélgica da vida, possa ser campeão é motivo de bullying. Mas em pouco mais de uma semana, deu pra ver que a Copa de 2018 espelha bem o cenário ambíguo e complexo no qual vivemos, em que as incertezas e surpresas cada vez mais fazem parte do jogo.

Na economia real, o estrago de pequenos e revolucionários negócios vem mudando o capitalismo que conhecíamos há algumas décadas. Recentemente, detalhei aqui na coluna o que fez uma startup criada há cinco anos em Florianópolis ser vendida pelo equivalente a 10% do valor de mercado de uma das maiores multinacionais de Santa Catarina. O peso não está em ser grande, mas em gerar valor na era da economia digital (que o digam Ubers, Spotifys e tantos outros) e ser competitivo.

Competitividade essa que faltou à tetracampeã Itália, derrubada ainda nas eliminatórias europeias por uma equipe mediana da Suécia. Competitividade que passou longe da seleção argentina, freada pela pequenina Islândia e atropelada pela talentosa Croácia. A mesma competitividade que fez o México mudar completamente seu esquema, “jogar fora da caixa” e vencer a Alemanha. E que fez a defesa do Irã encarar sem medo os toques rápidos e incessantes da Espanha. A principal inovação dos persas foi ter colocado uma linha de seis jogadores (mais da metade do time) à frente do goleiro para se defender. Quase deu certo, o que rendeu elogios e análises técnicas de especialistas.

Vários fatores levam seleções menos tradicionais a rivalizar, em alto nível, com equipes muito mais poderosas. A tecnologia é fundamental, especialmente o uso intensivo de dados para análise e tomadas de decisão. Em 1974, o técnico Zagallo desconhecia a seleção da Holanda, adversária na semifinal daquela Copa, mesmo que mais da metade do time jogasse no tricampeão europeu de clubes, o Ajax. O Brasil levou uma surra técnica e tática do time de Johann Cruyff (de quem roubei a frase que abre a coluna). Hoje, seleção que não usa big data para gerenciar performance e perfil de jogo do adversário já começa correndo por fora.

De que maneira então uma Copa do Mundo pode nos estimular a pensar além do óbvio e fazer algumas coisas de maneira diferente? É só olhar para os lados: tradição não está mais vencendo jogos; não adianta ter um Messi e não ter direção; ousar de maneira organizada é o que fez outsiders encararem os grandes, nos esportes e nos negócios, e muitas vezes vencer. É preciso, como disse Cruyff, jogar com o cérebro.

Depois disso tudo, rasguei minhas apostas conservadoras do bolão e fiquei na dúvida: Islândia ou Bélgica?

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