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Coluna Gaby Haviaras | Exercício Ser: humano e eficiente
18 de Abril de 2018

Coluna Gaby Haviaras | Exercício Ser: humano e eficiente

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Na primeira semana de janeiro deste ano foi ao ar a terceira temporada uma série que faço há 3 anos, o “Conselho Tutelar”. Um dos trabalhos que fiz que mais mexem comigo como ser humano. Quando chegam os roteiros das temporadas é sempre muito difícil acreditar no que se está lendo, até ali parece tudo ficção. Mas a vida real é mais cruel. 

Cada vez que uma temporada vai ao ar nós recebemos retornos positivos sobre um aumento das denúncias contra abuso e violência infantil. É muito prazeroso quando, num trabalho, se consegue associar a cidadania ao seu ofício. E, neste caso, sou muito feliz de fazer a Lídia, a assistente social desta série. 

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Porque resolvi te contar isto aqui? Por que nesta temporada aconteceu algo muito especial. Na semana em que estava no ar, uma mulher de 24 anos entrou em contato comigo pelo inbox do Instagram. Vou chamá-la aqui de Ana para preservar sua identidade. A Ana começou a conversa dizendo que estava adorando a série e principalmente a minha personagem, por ser “humana e eficiente”. 

Eu agradeci o contato e o carinho e disse que no serviço público de saúde há muitos profissionais atenciosos e eficientes. Ela lamentou por nunca ter encontrado um e perguntou se poderia me contar a sua história. Eu disse que sim. Bem, daqui pra frente a história da Ana poderia virar uma outra série sobre abusos a mulheres. 

Ana, estudante de enfermagem, mãe de uma criança e moradora de periferia de uma capital desse Brasil imenso, foi vítima de estupro coletivo e se calou com medo. Começou a ser abusada com frequência, com requinte de tortura e crueldade, ameaçada de morte caso ela falasse para alguém. Depois de uma das vezes em que ela saiu muito machucada do ato, não teve saída e recorreu a um posto de saúde. Na rede de saúde começa um novo capítulo que se desenrola em atendimentos preconceituosos e mal orientados. Eu estou resumindo a história da Ana, poque senão teríamos um livro. Mas a história dela infelizmente já está contada em muitas outras mulheres do nosso país, diariamente. Mas muitas mulheres MESMO, independente de credo, cor ou classe social, e com diversos tipos de abusos.

Fui alertada por um amigo próximo sobre acreditar nessa história, pois há de tudo na internet. Ana foi alertada por uma pessoa próxima a não contar o que estava acontecendo para uma desconhecida distante. Mas algo nos fez acreditar que no outro lado das mensagens haviam mulheres de verdade. Em nenhum momento me preocupei ou duvidei de cada detalhe que ela me contava. Havia uma certeza no meu coração: tem uma mulher pedindo socorro e eu tenho que tentar ajudar. 

E nos ajudamos! Pra resumir, eu e Ana viramos amigas, falamos com frequência, ela hoje já encontrou profissionais acolhedoras para a sua história, está bem encaminhada, com apoio e amor. Firme e guerreira, lidando com as suas marcas. E eu ganhei uma amiga, uma história pra contar e também pra te questionar. Quantas vezes fechamos as portas para a possibilidade de ajudar alguém? Quantas vezes você precisava de alguém que acreditasse na sua dor e não foi ouvido? Será que dentro da sua profissão não há um jeito de associar a cidadania ao seu trabalho? Porque não estender uma mão? Oferecer ouvidos atentos? 

 

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