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Coluna Fabrício Wolff | Negacionistas, comunistas e outros rótulos
05 de Agosto de 2020

Coluna Fabrício Wolff | Negacionistas, comunistas e outros rótulos

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Por Fabrício Wolff 05 de Agosto de 2020 | Atualizado 05 de Agosto de 2020

Tecnicamente, no dicionário rótulo é uma “peça de madeira, pergaminho ou papel, com alguma inscrição pertinente à coisa a que é aposta”. Esta descrição que demonstra o que é o objeto em que o rótulo está colocado, foi absorvida pela sociedade que estigmatiza uma situação, comportamento ou pessoa emprestando-lhe uma imagem nem sempre verdadeira. 

Os rótulos sociais são, desde há muito, uma definição imposta pela coletividade. No século passado, nos idos anos 50, a mulher que ia à praia de biquíni, em especial em determinados países, logo seria “rotulada” como uma despudorada. Já os rockeiros ficaram com o rótulo de marginais, seja pelos acordes estridentes de suas guitarras ou pela mítica trilogia sexo, drogas e rock’n roll. Os motociclistas que utilizam as motos customizadas ganharam fama de bad boys. No Brasil, os políticos são rotulados como corruptos ainda antes de terem cometido algum ato que valha o rótulo. Os andarilhos, moradores de rua, são bêbados e trôpegos. Os investidores de Wall Street são todos milionários e felizes.

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É certo que o rótulo social generaliza, coloca todos os integrantes de um determinado segmento no mesmo balaio. Com isso – claro – comete injustiças. O ato de rotular pessoas e comportamentos, aliás, é oriundo da péssima mania da sociedade (para que não soe abstrato, é importante ressaltar que a sociedade é um conjunto de pessoas que vivem em um mesmo lugar e tempo) de julgar os outros, como se somente os outros tivessem defeitos. Rotular, pois, é um ato comum de covardia cometido coletivamente sem conhecer, efetivamente, aquilo ou aquele que é rotulado.

Neste momento de bipolarização política existente no Brasil e, agora, de pandemia da Covid19, os rótulos estendem-se a desacreditar a tudo e a todos. Na política, todo aquele que não é a favor de A, é B. E vice e versa. Se não reza na cartilha da esquerda, é “bolsominion”. Se não comunga com os atos de Bolsonaro, é comunista. Dois rótulos impingidos às pessoas que, muitas vezes, não são nem uma coisa, nem outra. E, se assim o forem, recebem o patético rótulo de “isentões”. Na atual democracia política brasileira, é mais importante se posicionar do que ter o direito e a dádiva de pensar.

A mesma rotulação é levada para a pandemia. Parte da sociedade que apóia os lockdowns e faz campanha para as pessoas fiquem em casa, rotula de “negacionistas” aqueles que preferem viver o mais normalmente possível, apesar da época peculiar. Sabem que a grande maioria destes, sequer nega a doença; apenas optou por outra forma de conviver com este momento. Mas… o mais importante é rotular. É disso que a sociedade vive, em suas entranhas: do julgamento ao próximo. Porém, aqueles que acusam os outros de negacionistas negam qualquer possibilidade de enfrentar a pandemia que não seja aquela em que eles acreditam.

Ou seja, os rótulos sociais servem muito mais para solidificar a própria visão de mundo, as próprias crenças, do que para definir pessoas, comportamentos e situações. O ato de rotular, na imensa maioria das vezes pejorativamente, embora bastante comum em nosso cotidiano, é o dedo apontado em riste para aquilo que não se conhece com profundidade ou se tem medo. É a tentativa antecipada de desfazer, desmerecer como forma de se defender. Ele comunica a fragilidade do ser humano que teme ou inveja o diferente, o desconhecido. Ele comunica a fraqueza da sociedade, que busca julgar por atacado. Ele comunica, enfim, a debilidade do ser humano como ente social e a falta de empatia dos seres humanos com sua própria espécie.

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