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Coluna Fabricio Wolff | As federais são realmente necessárias?
20 de Maio de 2019

Coluna Fabricio Wolff | As federais são realmente necessárias?

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Por Fabrício Wolff 20 de Maio de 2019 | Atualizado 20 de Maio de 2019

Na última publicação desta coluna, versei sobre a importância dos investimentos em educação. Afinal, é este aporte de recursos financeiros nesta área específica que comunica aonde um país pretende chegar. Mas fui além: investir por investir, sem a devida compreensão de todos os atores do processo educacional (governos, professores, diretores, alunos, famílias) do real objetivo do ensino, é jogar dinheiro público pela janela. O texto é longo e complexo, mas ressalta a dificuldade cultural do brasileiro em aproveitar efetivamente os investimentos feitos na educação, pelos mais variados motivos. Vale dar uma rememorada, até porque hoje vamos aprofundar um pouco mais o assunto.

A pergunta que mais se fez nos últimos dias, no Brasil, é “como ficarão as universidades federais com o contigênciamento/corte de recursos”? A questão foi comunicada aos píncaros e serviu até de motivo para protestos de rua. Bradou-se sobre pesquisa e extensão, sobre política e ideologias, sobre o futuro da nação… Mas pouca gente perguntou (ou se perguntou) qual a verdadeira necessidade das universidades federais no atual contexto, da forma que elas funcionam. Se este é, realmente, um sistema que funciona a favor da educação e, especialmente, do país. 

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Todos nós sabemos que o ensino superior, de forma geral, busca levar mais conhecimento a seus frequentadores. Sabemos também que este conhecimento deve ser utilizado para o crescimento humano e profissional, integrando-o à cadeia produtiva nacional, fazendo com que gere riquezas e contribua na melhoria da qualidade de vida das pessoas de toda a nação. Este objetivo nos leva a mais perguntas – e pensá-las também é fruto do aumento do conhecimento: nossas universidades estão cumprindo essas metas básicas?  Se não, temos um problema grave. Se sim, abre-se outra pergunta: com que efetividade? 

Quando se trata de uma universidade federal, o rigor na cobrança de resultados precisa ser ainda maior. Afinal, toda a sua estrutura é mantida com o dinheiro de cada um dos brasileiros. Sim, muitas vezes a comunidade universitária esquece, mas é o dinheiro dos impostos de cada cidadão (recursos esses conquistados através do trabalho diário e muitas vezes bastante duro de cada brasileiro) que paga a conta dos salários, das “mensalidades” dos alunos, da manutenção, enfim… de todo o funcionamento da estrutura de uma universidade federal. 

Por outro lado, não são raras as notícias de desperdício e mau uso do dinheiro público, que vai desde o pagamento irregular de bolsas de estudo (caso, por exemplo, do relatório do TCU que aponta quase 3 mil dessas na UFSC) a desvios de dinheiro em obras e serviços contratados. É quando as universidades federais comunicam que sua “autonomia” pode ser um desserviço à população. Não vamos nem enveredar para casos estapafúrdios como o cabide de empregos político-partidário em que se transformou a UFRJ e que, com gente incompetente em lugares estratégicos, culminou com o incêndio da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que queimou a história, a cultura e o filme dos brasileiros.

Para terminar: o atual modelo das universidades federais em que o estudante aproveita durante anos do dinheiro de impostos dos outros e, ao sair, simplesmente vira as costas para seus financiadores sem dar qualquer contrapartida para a nação, precisa ser sepultado. É socialmente injusto. Se colocarmos nesta análise que mais de 50% dos beneficiados com o ensino superior público e gratuito são estudantes de famílias das classes A e B, é possível dizer que o modelo em questão é demasiadamente desumano. 

Chega-se à conclusão que o ensino precisa ser pago. Nas universidades particulares, pelos que podem pagar pela mensalidade. Nas universidades federais públicas e gratuitas (preferencialmente pelos que efetivamente não podem custear seus estudos), com um período de pelo menos três anos de serviços comunitários, ainda que seja de meio período, para que o profissional então diplomado pague ao cidadão brasileiro que financiou esses estudos. Se não houver este retorno, coloca-se em xeque a necessidade das universidades federais. 

As universidades federais não podem existir apenas para garantir salários estratosféricos para professores concursados, cargos e vantagens para reitores e diretores, autonomia para fazer o que bem entender com recursos públicos e facilidades além da realidade brasileira para alunos nem sempre aplicados em seus estudos (muitos sequer respeitam prédios e equipamentos públicos, pagos por todos nós). Diante de um quadro desses, o sistema “universidade federal” comunica ser um elefante branco que traz poucos (e/ou não comprovados) resultados à nação. É mais uma corporação que precisa se reinventar, mudar hábitos e procedimentos, para não ser descartada pela sociedade neste novo Brasil – mais sério, mais ético e mais eficiente – que a nação exige.
 

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