Publicidade
Coluna Fabrício Wolff | A colonização cultural midiática
05 de Dezembro de 2019

Coluna Fabrício Wolff | A colonização cultural midiática

Publicidade
Twitter Whatsapp Facebook
Por Fabrício Wolff 05 de Dezembro de 2019 | Atualizado 05 de Dezembro de 2019

Definitivamente o consumidor brasileiro incorporou o “dia de descontos especiais” como uma realidade imprescindível, assim como os norte-americanos, pais da ideia. Neste caso específico, não aderimos somente à expressão em inglês, mas também ao hábito consumista avassalador – ainda que os clientes tenham aderido mais à ideia do que os próprios comerciantes (onde, aqui, muitas vezes o desconto ou é pequeno ou é maior camuflado em aumento de preços nas semanas anteriores à promoção).

Mas este espírito de colonizado não é novidade. Nosso comércio, há anos, anuncia descontos como “x% off” e uma venda como “For Sale”. As expressões em inglês tomaram conta de vários segmentos, como se fosse a língua pátria. É claro que ninguém aqui contesta a importância da língua, considerada “universal”, para estar conectado ao mundo globalizado. Saber falar, entender, escrever, comunicar-se em inglês é fundamental. Porém, colocar as expressões salteadas no dia a dia, onde a comunicação é na língua portuguesa, (ainda) língua oficial do país, é passar atestado de inferioridade.

Publicidade

Porém, a colonização está escancarada em tudo – e não só uso da língua. Os “fast food” que tanto engordam os norte-americanos e fazem mal à saúde proliferaram por aqui, em especial nos anos 90 e 2000. E com a colonização gastronômica, claro, vieram também as expressões: nossos carrinhos de lanche viraram “food trucks” e nossos lanches “hamburguers”. A colonização gastronômica só não avançou mais porque a informação é veloz e fez com que as pessoas mais conscientes dessem uma maneirada nos pratos rápidos, calóricos e com poucos nutrientes. 

Poderia discorrer sobre tantos outros exemplos que nos empurram para o papel de colonizados – e olha que não estamos falando de Portugal e, sim, dos EUA. Uma colonização moderna, não pessoal-territorial, mas econômica e cultural. Nosso Dia das Bruxas (13 de agosto) foi praticamente esquecido graças ao Halloween (31 de outubro). Imaginamos nosso Natal com neve e o Papai Noel entrando pela chaminé (como se chaminés existissem naturalmente por aqui). Esta espécie de apropriação cultural tem influência direta da mídia, música e cinema.

É certo que os Estados Unidos, como potência mundial de primeira grandeza, tem facilidade para influenciar o modo de viver de outros povos. Porém, em uma leitura do que isto representa em termos de comunicação, é possível fazer a leitura de que somos altamente influenciáveis pelo meio, ainda que o meio não esteja exatamente em nosso ambiente. O descomplicado e rápido proliferar da informação de um mundo globalizado facilita as condições para que sejamos bombardeados pelos modismos externos. E uma grande potência mundial tem as facilidades midiáticas – logo, comunicativas – para, naturalmente, conquistar novos povos para sua colonização cultural.

Publicidade
Publicidade