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Coluna Fabrício Wolff | Arte também é comunicação
18 de Julho de 2017

Coluna Fabrício Wolff | Arte também é comunicação

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Por Fabrício Wolff 18 de Julho de 2017 | Atualizado 18 de Julho de 2017

A arte é uma forma de comunicação. Mais sensitiva, mais indireta, muitas vezes mais abstrata, mas ainda assim uma forma de comunicação. Ao contrário da comunicação tradicional, que tem como fórmula de excelência ser direta e muito clara, a arte viaja nas entranhas e estranhas maneiras de dizer. Mas se é arte, deve dizer, deve comunicar, deve ter uma linha de comunicação que leve o espectador ao sentimento. Caso contrário, não é arte.

O conceito de arte é subjetivo e varia de acordo com a cultura em questão, o período histórico e até mesmo o indivíduo. Mas apesar de toda esta subjetividade, é fundamental que ela comunique, que a própria arte diga a que veio. Assim o é desde sempre. Se considerarmos que os homens das cavernas praticavam o que chamamos de arte rupestre, consegue-se compreender que esta sempre foi um dos principais elementos da comunicação humana.

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O verbo comunicar vem do latim communicare, e significa participar, informar, estar em comunicação. O processo da comunicação remete aos seis elementos básicos (e conhecidos por quem minimamente tem contato com a teoria) que são o emissor, receptor, a mensagem, o código utilizado para emiti-la, o canal pela qual foi enviada e o contexto da mensagem. O mesmo ocorre com a arte que tem o artista como emissor, o público como receptor, o código (que no caso pode ser a pintura, a música, a poesia, a escultura…), o canal de comunicação (a tela, o áudio, vídeo, o livro…) e precisa ter a mensagem e seu contexto. É aí que podemos separar a arte de uma expressão apenas. É exatamente neste ponto que separamos o joio do trigo; uma expressão apenas de uma expressão artística.

Muitos “artistas” podem se revirar em suas elocubrações neste momento, mas não existe arte sem mensagem. Ela é um princípio básico da expressão artística, seja em qual formato esta arte se apresente. O verdadeiro artista expressa um sentimento e, querendo ou não, comunica este sentir. Ele pode ser interpretado pelo receptor, entendido de diferentes maneiras por diferentes pessoas, sentido das mais variadas formas e intensidades. A arte não se explica enquanto significado porque isto reduz as possibilidades de interpretação. Esta é a grande diferença entre a arte e a comunicação tradicional. A primeira não precisa induzir a um resultado.

Porém se aquele que produziu uma peça não o fez como uma forma de expressão comunicativa, não produziu arte. Se ele não sentiu sua própria obra, não se trata de arte. E se a sentiu, está comunicando um sentimento. Esta comunicação precisa estar intrínseca à própria peça artística, sem explicações ou devaneios teóricos. Ela precisa exprimir por si só aquilo que o artista quis dizer, ainda que seja diferentemente interpretada pelos receptores do elo artístico-comunicativo. 

Atualmente tudo o que é feito de forma diferente é aceito como arte. Desenrolar papel higiênico no piso de um salão é tido por alguns desavisados como expressão de arte. Qual o sentimento e a informação repassada por um rolo de papel higiênico largado, ainda que cuidadosamente, em meio a uma sala?  Este é apenas um exemplo de quem nem tudo comunica, é sentido, faz sentir. É o vislumbrar, também, de que nem tudo que habita salões de artes é arte. Os defensores desses devaneios pseudo-artísticos costumam sugerir se tratar de uma ruptura com a arte tradicional. Pode ser uma tentativa de ruptura, mas não muito mais do que isto. Até porque mesmo para romper com a arte, é preciso haver arte nesta ruptura.

Se comunicar é uma arte, fazer arte é comunicar.

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