Ás vezes a gente desiste antes da hora por não se sentir preparado,
Por um golpe da mente que sabota o sucesso,
Pelas eternas condicionantes… “se eu tivesse, quando eu tiver”,
Ou induzido por um invisível inimigo:
a arrogância que incita a terminar antes mesmo de tentar.
Os sintomas são claros, mas poucos reconhecem:
O medo de não ser aceito,
A vergonha de não ser aprovado,
A escravidão do ego,
A decepção, pela oferta abaixo do meu valor,
A arrogância, camuflada de cautela, prudência e paciência.
Na profissão que eu escolhi, é bem fácil se sentir assim.
Um dia sou jurada em concurso de Miss,
No outro sou “modelo” em campanha de lingerie,
Um dia dou palestras, como convidada,
No outro sento em lugar marcado, na primeira fila do auditório lotado,
Um dia embarco pro Caribe, em outros pra Europa com tudo pago.
Brasil afora, do carro de boi da procissão ao helicóptero particular,
o Jornalismo abre-alas, permitindo que eu “me ache”,
mas a contrapartida tem o mesmo quilate.
Na profissão que eu escolhi, devo expor sem julgar,
E todos os dias, ser “ré” do que levo ao ar.
Julgada por poucas horas, no palco do cerimonial,
Julgada pela vida afora, se eternizo a história em um livro,
Pelo sorriso, se estou gravando,
A seriedade, entrevistando.
Pela aparência, quando chego,
E a relevância, “quem te segue?”
Julgada em silêncio, por quem me lê,
Julgada em público, na Banca do Mestrado
(12 dias após saber dos riscos da cirurgia seguinte do meu marido).
Por isso eu resisto e me exponho sem sombras.
É o curso da vida, flui feito ondas.
Ora abundante ora minguante.
Sem esconder as fraquezas,
Sem refratar os fracassos,
Sem temer a recusa nem exigir o controle.
Às vezes a gente insiste, até depois da hora, pois se sente encorajado.
Por abolir a arrogância, acolher a abundância,
aceitar a acidez das críticas,
sorver o sal das lágrimas
que assusta, assumo,
mas detém o poder de realçar
o sabor controverso do nosso prosperar.