Hoje, aqui, agora, confesso o quanto estou em paz em plena #Quarentena.
E não é por estar lendo “Anne de Green Gables”, o grande clássico da Literatura canadense que, no melhor estilo “Poliana”, nos ensina a ver beleza em cada canto dos fatos, cada canto dos outros, cada canto da natureza.
Não é isso, pois as biografias que devorei nestes dias de clausura foram pesadas e duras: “O momento de voar”, em que Melinda Gates conta as misérias culturais e a violência física que presenciou mundo afora, enquanto, com sensibilidade e empatia, decidia onde aplicar os recursos milionários da fundação Bill e Melinda Gates, e “Minha história”, em que Michelle Obama expõe a dificuldade de se reverter a pobreza e a violência em bairros como o dela, onde nasceu, cresceu e casou com Barack Obama, em Chicago.
Acho que sou feliz pelas próprias referências.
Pela sucessão de frustrações que me ensinou a jamais baixar a guarda, mas subtrair as expectativas.
E quanto menos eu projeto um mundo perfeito, mais valorizo o que já tenho: o dito e o feito.
Administrar as expectativas
não é dom nem dogma,
mas um domínio
que se exercita.
Quando a gente mora no hospital por praticamente cinco meses, abdicando das noites em silêncio pelo entra e sai dos enfermeiros, trocando o conforto da cama pelo sofá pequeno e duro, buscando consolo no marido que vive, contorcido de dor no leito ao lado, para a ausência do beijo na face perfeita da filha… a gente aprende a viver o dia.
#UmPassoPorVez #SemprePraFrente, delegando “a cada dia o seu cuidado”, como nos lembra a Bíblia em seu Sermão da Montanha.
Por isso HOJE é sempre o meu dia preferido.
Com todo o ontem que ele carrega,
por todas as mudanças que posso operar a cada manhã,
pelo potencial que eu guardo de mudar o meu amanhã.
Todo dia é o primeiro,
o perfeito,
pro passo que falta.
Pro pouco capaz de mudar
todo o mundo
à minha volta.
Agora que completamos 40 dias no casulo, com previsão de mais uma #Quarentena, contribuindo com o #IsolamentoSocial até que o #Coronavírus arrefeça, me obrigo a dizer obrigada por tudo o que vivi e aprendi. Sem romantismo. Sem cinismo. Com civismo. Satisfeita por fazer da disciplina a minha vacina, ficando em casa o máximo possível, e contribuindo, ao deixar de circular, com mais uma chance de a doença se espalhar. E já que #DistânciaSalva, extraímos da reclusão o que ela pode ter de bom:
convertendo em treino o tempo não gasto no trânsito, com ginástica diária.
convertendo em dieta a despensa esvaziada, pelas idas ao mercado muito mais espaçadas.
convertendo em concentração o silêncio da rua.
convertendo em amparo a companhia da família.
convertendo a saudade em jardim e poesia.
A necessidade revela habilidades.
Ou como diz a personagem do meu sexto livro, Miriam de Almeida Pinheiro,
o polimento vem do atrito.
E a minha sugestão, pra quem chegou até aqui, é revogar a solidão.
Descobrir o quanto a própria companhia, preenche e inspira.
O quanto conhecer-se, saber de si, projeta à outra dimensão.
Nunca, nem tente, imitar ou se encolher,
Seja o que deseja, aquilo que deve ser.
Da sua verdade provém o seu poder.
Hoje, aqui, agora, sabe o pior que pode acontecer?
Como emerge a alegria, se eu comparar ao hospital,
pra você, o sentimento que persiste, a dor visceral,
vai se tornar referência em todos os dias pós-pandemia,
incitando mais ação, emoção e gratidão quando tudo voltar ao normal.
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