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Coluna Ana Lavratti: Porque sujar os pés lava a alma
12 de Março de 2018

Coluna Ana Lavratti: Porque sujar os pés lava a alma

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Por Ana Lavratti 12 de Março de 2018 | Atualizado 12 de Março de 2018

Domingo de sol escaldante,

mas em vez do biquíni, amarrei o cadarço

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pra sujar os pés e lavar a alma nas areias fofas de Jurerê.

Entre as belezas que cravejam nosso hino

“ao som do mar, à luz do céu profundo”,

foi dada a largada pra mais uma corrida:

SesiBeachRun às sete e meia da manhã.

 

Camuflada entre atletas e heróis,

fiz das passadas passaporte

pros dias questionando a sorte,

vivendo no breu, vizinha da morte.

11 anos se passaram desde 2007, quando todas as letras, números, diagnóstico e prognósticos prometeram pra mim 10 anos de vida.

A contragosto, em colapso, iniciei a contagem regressiva.

 

Àquelas alturas eu tinha um bebê desabrochando e uma mãe se despedindo, poupada de saber que eu padecia do mesmo mal: um tumor se multiplicando, em endereço e estágio distintos.

Pra mim, se revelou na fase microscópica, pra ela, só depois da metástase. Até que Deus aliviou o sofrimento e a levou um mês antes do Natal, 15 dias antes da minha internação seguida por 11 dias de total solidão (pós-iodoradioterapia, que exige isolamento da família, da enfermagem, dos médicos, filtrando qualquer contato em um biombo blindado).

 

 Minha Lara em 2007 

 

Dependente de hormônios pelo resto da vida,

devastada pelo luto de quem me deu a vida,

desamparada, amortecida,

com bebê pedindo colo, sem tônus pra carregar,

o peito pedindo consolo… ninguém capaz de dar,

com GPS no pulso mas sem impulso no coração,

cabia a mim, só a mim, transcender tal condição.

Amortizar as dormências que me impediam de sentir os pés

nas lembranças das passadas, de quando os pés tinham asas.

 

Correndo na terra do sol nascente, nos parques do Japão;

onde o mar e o céu derramam o mesmo tom, nas férias no Havaí.

Às margens da ferrovia, chamuscada pelo frio do inverno alemão;

entre lagos e campos de golfe, fluindo, na Flórida… ou em Floripa,

onde eu descobri assim, nauseada na corrida em pleno Natal, que na minha barriga batia o coração de quem nunca mais me deixaria cair…

 

Entorpecida de boas memórias,

Movida pelo maior compromisso, de dar pra Lara um doce-lar,

depurei os pensamentos e voltei a correr. Passo a passo.

Voltei a correr. Pace a pace. Até desinfetar a mente,

pacificar os medos e acreditar que os pesos

que se acumulam nos ombros insistindo em me vergar

não se comparam à pressão que eu consigo suportar.

 

 

Um ano depois de retirar o tumor, comemorei me inscrevendo na run series da Track n’Field,

prova cheia de poças, pela madrugada de temporal e insônia,

e eu ali, anônima, escutando pássaros, “escrutando” a emoção.

No íntimo, vibrava uma percussão, porque o último lugar teria status de superação.

 

Daquela estreia nas pistas em 2008, até agora em 2018, tudo mudou pra mim.

Ouso acreditar que a minha força não tem fim.

Antes de pesquisar neurociência aprendi pela experiência:

que posso dominar o que eu penso, amestrar o que sinto.

Posso projetar sem freios porque esqueci como é ser frágil.

Mas nunca vou esquecer daquela manhã, quando vesti a minha primeira medalha.

Quadrada. Como tem sido a vida… sempre oferecendo quinas onde me agarro e arremeto.

#UmPassoPorVez #SemprePraFrente,

e quando guardo a medalha, como não vibrar?

De corrida em corrida, movo a engrenagem da vida.

Sem data de validade… porque hoje “10 anos” tem novo significado:

é a idade da minha caixa de prêmios acumulados.

 

 

 

  • Próximas paradas confirmadas: Corrida Pedra Branca em Palhoça, no dia 25 de março, e Running Tour Uninter Floripa, no dia 14 de abril.

 

 

Para ampliar as imagens e acionar o slideshow , clique nas fotos da Galeria.

 

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