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Coluna Ana Lavratti: Nada nos move mais do que um motivo nobre
12 de Dezembro de 2017

Coluna Ana Lavratti: Nada nos move mais do que um motivo nobre

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Por Ana Lavratti 12 de Dezembro de 2017 | Atualizado 12 de Dezembro de 2017

48, cheguei!
E quem diria que o jogo ganha intensidade depois dos 45?

Ao atingir o “segundo tempo”, a vida era tão generosa que preenchia com perfeição a minha ambição de rotina perfeita. Então troquei de Série…

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Comecei o Mestrado tão focada no gol que nem percebi o cartão cor de sangue emergindo em câmera lenta.

Era dezembro de 2014, e o meu marido, que preenchia com perfeição a minha ambição de família perfeita, descobriu um tumor nocauteando o osso, bem na base da coluna.

Então embarcamos pro Havaí, que eu já conhecia e sabia: por mais gigante que fosse a dor, o paraíso em família preenchia com perfeição a nossa ambição de férias perfeitas.

Trabalhando, estudando, com filha pequena e marido doente, a goleada foi descartada. E a vitória, suada, só veio nos pênaltis em 2016.

No pior round da nossa vida, o Marcio honrou a torcida.
Venceu 15 cirurgias, 
15 dias em coma, 
três meses de internação em Curitiba
e uma ferida tão grande e profunda que só cicatrizou oito meses depois do corte.

O primeiro aniversário da alta hospitalar foi em Montreal. Aplaudindo da primeira fila, do camarote armado em uma ilha, um torneio mundial de fogos de artifício. Enquanto os sons explodiam no céu, os sonhos eclodiam no coração, preenchendo com perfeição a nossa ambição de futuro perfeito.

Até que os lances mais programados
Minha pesquisa do mestrado,
O doutorado do Marcio,
A estreia da Lara em escola integral bilíngue,
Se encolheram lado a lado no banco de reservas.

Era maio de 2017, 
E o medo,
a dor,
os exames
e as despesas,
antes empurrados pra escanteio, voltavam vigorosos pro centro do campo.

Preenchendo com perfeição a nossa ambição de pai perfeito, o Marcio não se entregou.
Enquanto o tumor nos impelia a repetir a escalação,
Mesmo médico
Mesmo hospital
Mesmo risco
Mesmo sofrimento,
Apostamos na mesma emoção, a visão do mar sem fim, pra lotar de garra o corpo e de paz o espírito.

O roteiro, mais uma vez, preenchia com perfeição a nossa ambição de viagem perfeita:
Mykonos
Santorini
Atenas
Rodhes

Ilha de Creta
Ilha de Malta
Ilha de Capri
E muito mais imensidão azul.

Dois meses depois, o destino já era o frio. E lá fomos nós, coesos e convictos, enfrentar o sprint final: 
mais quatro cirurgias perfurando da pele à medula
quatro dias inconsciente na UTI
15 dias imobilizado pelos riscos da medula vazando

um mês e meio morando num quarto de hospital
e uma certeza renovada:

Não importa o páreo nem o adversário,
na nossa família a força segue invicta,
a fé bate recordes,
e os obstáculos da corrida só servem pra lembrar
que nenhuma viagem ideal, coluna social ou rede digital supera a emoção da vida real.

E assim, cheguei nos 48…
poderia ter sido vencida,
mas fui convencida,
de que nada nos move mais do que um motivo nobre:
vencer, pra agradecer 
o que preenche com perfeição nossa maior ambição: 
a dádiva da vida.

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