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Coluna Ana Lavratti: Como assim? Um troféu pra mim?
08 de Janeiro de 2018

Coluna Ana Lavratti: Como assim? Um troféu pra mim?

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Por Ana Lavratti 08 de Janeiro de 2018 | Atualizado 08 de Janeiro de 2018

Como assim? Um troféu pra mim?

 

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Início de ano,

todo mundo renovando planos

e aqui vai um conselho de fada madrinha:

O prêmio não provê da magia, mas da valentia.

 

Era 25 de novembro de 2017 e o cenário não ajudava.

No coração apertado, dois lamentos litigavam sem fim

feito Anastácia e Drizella sitiando o Príncipe Encantado.

 

De um lado os 10 anos de saudade da minha mãe,

que nos deixou em 2007 no dia da nossa padroeira, Santa Catarina.

Do outro o marido, meu amor, que completava nesta data um mês de internação longe de casa,

com todos os riscos que a medula vazando acarreta até mesmo ao corpo mais vigoroso.

 

Tristeza instituída, eu precisava seguir a vida.

E meu compromisso naquele sábado era com a festa e a felicidade:

cerimonial de 15 anos, com ambientação de sonho reproduzindo o baile da Cinderela!

Então separei os problemas, acomodei com cuidado sob o travesseiro, e prometi voltar logo, tão logo cumprisse o meu trabalho.

 

De salto alto, maquiada, penteada, vestido cintilante, entre a torre de doces e os lustres de cristal, embarquei num mundo de magia… até que as doze badaladas me lembraram da vida real: do marido doente, dos projetos protelados, da filha feito cigana migrando de amiga em amiga enquanto a mãe e o pai orbitavam do centro cirúrgico pra sala de recuperação.

 

Problemas resgatados, ainda intactos sob o travesseiro, era hora de deitar, mas não sem antes exigir mais de mim.

Será que treinando pouco, dormindo pouco, com passagem marcada pra voltar pro hospital na manhã de domingo eu conseguiria honrar o convite, correndo em Palhoça no dia seguinte?

Racionalmente, a resposta era “não”, mas mesmo sem fada madrinha apostei no condão!

 

Antes das seis da madruga, quando o despertador encerrou uma noite de chuva e “pé atrás”, pois correndo o risco de pegar uma gripe seria melhor não correr, eu já estava de pé, ajustando o figurino pros 5k da FATENP.

Não sei dizer quantas vezes, durante o percurso, minha filha perguntou se eu ia ficar em último lugar.

Nem sei quantas vezes prontamente respondi:

melhor ser a última entre os atletas do que a primeira entre os sedentários!

Então, “bora correr”.

 

Sensação térmica de 40 graus, coração ansioso pela filha que ficou pelo caminho, quando o fôlego de criança naturalmente expirou, lá fui eu… #UmPassoPorVez #SemprePraFrente.

Ao honrar a medalha, tudo o que eu pensava era no horário apertado pra organizar a casa, tomar um banho e retornar pra Curitiba. Tanto que nem foto eu tenho na chegada. Porque a chegada mais aguardada, naquele 26 de novembro, era a minha no hospital, onde o meu Príncipe quase se desencantava pelo vigor da dor pós extração de um tumor.

 

Passados alguns dias, recebo um e-mail da prova. Os vencedores deveriam entrar em contato para receber o prêmio. Mesmo vendo o meu nome, ali em caixa alta, segundo lugar na minha categoria, a síndrome de Gata Borralheira não permitiu qualquer ilusão. O prêmio, imaginei, seria só pra Classificação Geral.

 

Um mês mais tarde, de volta a Floripa, uma amiga vinculada à prova me parabeniza pelo troféu.

Como assim? Um troféu pra mim?

Naquele domingo eu poderia ter dormido,

arrefecido pelo céu nublado,

usufruído de desculpas concretas e desistido de correr.

Mas na dúvida, eu disse sim!

 

Em 2018, provoque o mesmo motim. Diga sim. E Bibidi-Bobidi-Boo!

 

  • Em 27 de janeiro tem mais: Night Run Costão do Santinho. Som do mar… luz do luar… e vibe de atleta nos embalos de sábado à noite.

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