Se eu vivo sempre feliz é pela fé no que ainda está por vir. Por isso, me encaminhando pros “quarenta e nove”, e tendo plantado tantas sementes, decidi rebatizar a nova fase. Vai se “quarenta e novinha”, convencida de que os frutos mais doces e as flores mais perfumadas ainda vão desabrochar, diante de mim, no meu jardim.
Em tantas Primaveras somadas, aprendi que a felicidade amadurece em camadas… feito tronco do Sombreiro, que com o tempo vira a cortiça – delicada e resistente – de onde extraímos as rolhas. Na fase da casca fina, ainda sem consistência, qualquer prazer imediato basta pra fazer feliz. Uma festa, uma compra, um encontro… À medida que a seiva nutre de consciência nosso recheio, precisamos de muito mais. De compromisso, envolvimento, do que ultrapassa o superficial. Com o tempo, encardidos de chuva, sol e sabedoria, as raízes profundas roubam toda atenção das folhas, flores e cores. Já não basta o triunfo automatizado. Nós precisamos de significado!
Por isso, está decidido. Meu último Verão antes dos cinquentinha vai ser de muito trabalho. Como nos cinco anteriores, enroscada feito cipó no que faz sentido pra mim.
No Verão 2014, me encorajei a fazer mestrado depois de décadas distante do mundo acadêmico. O primeiro passo foi descobrir o que eu gostaria de pesquisar: a Tradução Funcionalista, aquela em que não basta migrar palavras de um idioma pro outro. É preciso “funcionar”, aproximar os significados de uma obra da cultura que cerca aquele leitor em outra língua. Então comecei a ler… livros, teses e artigos, entre as brechas de sol que invadiam minha tela, me seduzindo a sair dali. Mas insisti, e quando lançaram o edital, com quatro etapas até o “aceite”, venci cada uma, cada camada, porque estava preparada.
No Verão 2015, acumulando dois empregos exigentes, como jornalista da Associação de Oficiais Militares e colunista do jornal Notícias do Dia, “traduzi” para as gerações futuras a gloriosa trajetória da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis. Mais do que ser lançado em lindos eventos, o livro “Somos Centenários, memórias dos 100 anos da ACIF” integra o acervo da Cápsula do Tempo, a ser aberta pela entidade no seu bicentenário em 2.115. Sim, de novo, o sol despendia raios, feito flechas, tentando me levar pra fora. Mas obstinada, mandei a tentação embora.
No Verão 2016, adivinha! Tendo já concluído a maior parte das disciplinas no Mestrado, e concorrendo a Bolsa de Estudos da Capes – o que me deu o privilégio de ganhar pra estudar -, dediquei cada folga à minha Dissertação, na ambição de cruzar Jornalismo e Tradução, desencadeando uma banca multidisciplinar e desvencilhando uma pesquisa inédita: como nossos rastros no meio digital, com curtidas, comentários e compartilhamentos nas redes sociais, detém o poder de traduzir o post original. Que sensação sem igual! O que antes era só ideia, solta feito folha ao vento, agora jorrava argumentos (em 150 folhas).
No Verão 2017 não foi diferente, escrevendo a biografia da soprano-maestrina-professora Rute Gebler, que há de ser um livro de luxo. Tudo, sempre, conciliado à rotina de mãe, mulher, assessora de comunicação, mestre de cerimônias e colunista social. Até que o Verão 2018 me trouxe aqui, às confissões que há um ano compartilho com vocês, toda segunda-feira no Acontecendo Aqui, em palestras presenciais e também a distância, no Lab da Vida… Já de casca dura, blindada pelas agruras, mas incapaz de esconder o coração mole que vive em mim.
Entre o sol e a solução, me atenho à segunda opção, abastecida pelo mar represado nos olhos do meu amor, o mar confiscado nas lembranças de algum Verão anterior…
Palestra #DádivaDaVida, por Ana Lavratti, disponível na web no Lab Da Vida.
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