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Coluna Alisson Barcelos | Entrevista com Marina Tavares: “A arte e a cultura mudam tudo. Mudam a vida”
11 de Janeiro de 2021

Coluna Alisson Barcelos | Entrevista com Marina Tavares: “A arte e a cultura mudam tudo. Mudam a vida”

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Por Alisson Barcelos 11 de Janeiro de 2021 | Atualizado 11 de Janeiro de 2021

Intervenções urbanas em Florianópolis existem há bastante tempo, mas desde a última semana de dezembro de 2020 seis murais tornaram a chegada à Capital ainda mais bonita e, como sempre, acessível a todos. São pinturas realizadas nas fachadas de um condomínio habitacional no bairro Abraão, que fazem parte do Street Art Tour (SAT), iniciativa idealizada pelo artista Rodrigo Rizo e pelos produtores Marina Tavares e Arturo Valle Junior, do Studio de Ideias, que há 16 anos vem desenvolvendo diversos trabalhos na área de arte e cultura.

O Studio de Ideias – meus velhos conhecidos – não se resume a este trabalho lindíssimo. E para apresentar um pouco da empresa e do antes, do durante e do depois da pandemia, com a projeção para 2021, trouxemos Marina Tavares à primeira coluna do ano. Nesta entrevista, ela conta que as ações do SAT, um dos projetos da empresa, foi alento aos moradores da Capital durante os dias de lockdown, entre muitos outros assuntos. Confira o nosso bate-papo.

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Alisson Barcelos – Somos velhos conhecidos, mas gostaria que você nos contasse sobre o início do Studio de Ideias e a proposta de se voltarem para difundir a arte e a cultura pelas ruas da Capital.

Marina Tavares – O Studio de Ideias nasceu há quase 17 anos, quando eu, você e os colegas da faculdade Rodrigo Lacerda e Laís Duarte, recém-formados no curso de Publicidade e Propaganda, decidimos criar uma agência de publicidade com sede na casa dos meus pais. Depois de um tempo, tivemos uma sede própria, e em seguida cada um dos sócios optou por um caminho diferente. Decidi continuar com o Studio de Ideias, mas optei por mudar o foco da empresa para atividades que tivessem a arte e a cultura como protagonistas, este sempre foi um segmento com que me identificava muito e com a entrada do meu sócio Arturo, com o qual compartilhava ideias em comum, este propósito ficou ainda mais forte. 

 


Foto: Tunai Arozi, Street Art Tour, Divulgação

 

Alisson Barcelos – Nesses 17 anos de história, foram centenas de eventos culturais realizados, que encheram de orgulho os manezinhos raiz, mas também quem é turista e quem chegou depois ou está chegando para morar na Ilha. Quais deles você destaca? 

Marina Tavares – Desde nosso reposicionamento como uma empresa que promove arte e cultura, já idealizamos, criamos, desenvolvemos ou produzimos diversos projetos e eventos das mais variadas vertentes artísticas. Além do Street Art Tour, sempre gosto de mencionar com carinho alguns de nossos trabalhos que têm uma grande relevância para o ambiente onde foram realizados: a produção local das exposições de Joan Miró (2015) e Antoni Gaudí (2016), realizadas pelo Instituto Tomie Ohtake no Museu de Arte de Santa Catarina – MASC. Elas incluíram Florianópolis no calendário nacional de exposições e registraram os dois maiores públicos para uma mostra em Santa Catarina. Entendo que além de valorizar o que é daqui, a cidade precisa receber e conhecer o que é feito fora, estar incluída de verdade no circuito cultural brasileiro. Por isso, em 2017 buscamos e realizamos a exposição do multiartista Arnaldo Antunes. A mostra foi um sucesso, reafirmando o potencial que a cidade tem para receber exposições nacionais, no final da mostra promovemos o retorno do artista para encerrarmos sua passagem por Florianópolis com um show incrível. A produção do Jurerê Jazz Festival, que difundiu e transformou o cenário da música instrumental na cidade. Também somos os responsáveis por um dos projetos mais queridos da cidade, o “Hoje é dia de jazz, bebê”, que já chegou a reunir em um parque numa tarde de domingo aproximadamente 4 mil pessoas, e pelo projeto Curta o Parque, que foi lançado em tempos pré-pandemia, sua primeira edição aconteceu em fevereiro de 2020 e reuniu aproximadamente 5 mil pessoas, foi nosso último evento aberto ao público, logo após tudo teve de ser paralisado por causa da Covid-19.

 


Foto: Tunai Arozi, Street Art Tour, Divulgação

 

Alisson Barcelos – A proposta de vocês é sempre de ocupar/realizar eventos nas regiões centrais da cidade. O nosso centro realmente é lindo e precisa ser valorizado.

Marina Tavares – Florianópolis tem praias lindíssimas, mas nossa região urbana do Centro também tem seu charme, com seus prédios históricos, praças, áreas verdes e o principal ponto turístico da cidade. Porém, enxergávamos que alguns destes espaços estavam de certa forma esquecidos, carentes da presença humana. Através de nossas experiências fora de Floripa surge a ideia de ocupar e ressignificar esses espaços com intervenções e atividades culturais. Com o “Jazz Bebê”, por exemplo, queríamos proporcionar para as crianças uma experiência diferente nestes espaços, através da música, da contação de histórias e de atividades artísticas. Logo o evento se transformou em uma convivência harmoniosa das famílias, de parentes, de amigos e até de seus pets. Já o Curta o Parque surgiu para resgatar socialmente a principal área verde na região central de Florianópolis, o Parque da Luz, pertinho da Ponte Hercílio Luz. O projeto é uma agenda que mescla apresentações e atividades artísticas, ações ambientais, atividades físicas e conhecimento histórico sobre o parque e seu entorno. As obras do Street Art Tour, que começaram no Centro da cidade, também incluíram a região nos roteiros de turistas e moradores da cidade. Tem lugar para todo mundo, para essa integração de cidade, natureza e população. É uma convivência linda… Conseguimos atingir nosso objetivo! Ainda tem mais por vir!

 

Alisson Barcelos – E então, chegamos em 2020 com muitos planos no papel, e tivemos de parar tudo (ou quase) e torcer para que a pandemia acabasse rápido. Como foi o ano passado para o Studio de Ideias? 

Marina Tavares – Pois é. Começamos o ano cheio de planos e com eventos e ações programadas. Para o Studio, 2020 seria um ano chave, pois colheríamos muito do que havíamos plantado em 2019. Lançamos o projeto Curta o Parque e já tínhamos mais quatro edições programadas para o primeiro semestre, estávamos para começar o mural Natureza do Desterro e para realizar a primeira edição do ano do Jazz Bebê, ambos em comemoração ao aniversário de Florianópolis, e então o mundo parou! Suspendemos tudo, as edições do Curta o Parque e do Jazz Bebê, o Festival do Jazz Bebê, uma itinerância de música erudita por todo o Estado e três exposições de artes, duas em Florianópolis e uma em São Paulo,  paramos e ficamos aguardando o que iria acontecer. Durante o tempo que ficamos parados, passamos a acreditar que o lockdown e todas as pessoas em casa talvez precisassem de um alento, e que a arte poderia ajudar. E então chamamos o Rodrigo Rizo, nosso parceiro no SAT e autor do mural Natureza do Desterro, juntamos toda a nossa equipe, formada por 10 pessoas (artista, assistentes, cinegrafista, assessoria de imprensa, fotógrafo), tomamos todos os cuidados e reiniciamos o trabalho de produção do mural. Naquele momento foi o primeiro trabalho artístico que retornou ao formato presencial durante a pandemia. A obra mostrou uma cidade diferente, e acabou sendo uma das primeiras mensagens de otimismo no meio das diversas notícias referentes à Covid-19.

 


Foto: Tunai Arozi, Street Art Tour, Divulgação

 

Alisson Barcelos – Como foi trabalhar com os murais em plena pandemia?

Marina Tavares – Os murais sempre tiveram muito destaque na cidade, mas ganharam ainda mais força. Eles foram o respiro que a cidade precisava em diversos momentos. As pessoas passaram a sair de casa, mesmo que de carro, para visitar essas obras. Sempre acreditei que a arte e a cultura mudam tudo, mudam a vida. E no meio de uma pandemia jamais vista na nossa geração, as pessoas buscaram a arte para respirar – boa música, um livro, arte na rua, um filme. A arte foi essencial para passar o ano, confirmando o que acreditamos, que ela é parte essencial da nossa vida. 

 


Foto: Victor Moraes, Street Art Tour, Divulgação

 

Alisson Barcelos – Os projetos de vocês são todos financiados por parcerias público privadas e pela Lei de Incentivo à Cultura de Florianópolis? Como as pessoas podem incentivar a arte e a cultura propostas pelos projetos de vocês?

Marina Tavares – Não, nem todos os nossos trabalhos são viabilizados por leis de incentivo. Também desenvolvemos, organizamos e/ou produzimos eventos culturais onde somos contratados por empresas ou instituições para exercer estas funções. O Studio também promove e realiza eventos que são viabilizados com a venda de ingressos. Já os projetos como o Street Art Tour, Curta o Parque, Jazz Bebê, exposições e outros eventos que são realizados de forma gratuita, em espaços abertos e que estão disponíveis para todos, geralmente são viabilizados por leis de incentivo à cultura, tanto no âmbito municipal como no federal. Os projetos que citamos acima, por exemplo, são viabilizados pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Florianópolis nº 3659/91. Ela permite que pessoas físicas ou jurídicas possam destinar até 20% dos seus impostos municipais (IPTU ou ISS) para incentivar projetos culturais na cidade. Gostaríamos que cada vez mais moradores e empresários da cidade conheçam e utilizem esta forma de fomento à produção artística. Ela não gera custos extras para o incentivador, fortalece o setor gerando empregos diretos e indiretos, traz retorno econômico para a cidade e principalmente desenvolve a cultura da sociedade.

 

Alisson Barcelos – E como é a percepção do público em relação aos projetos?

Marina Tavares – O público já identifica o perfil da empresa, porque todos os nossos projetos têm um propósito e muita identificação com o que acreditamos. Só trabalhamos com o que a gente tem prazer, e isso tem uma evolução espontânea. Quando a gente acredita em algo, o movimento para crescer é natural. Especialmente durante a pandemia, as pessoas nos paravam para agradecer, para pedir e sugerir ações artísticas ou locais a serem explorados. Essa troca é demais, porque mostra que a cidade mudou muito, que se abriu para o mundo, mas que nestes projetos, nestas realizações, teremos sempre o público como grande parceiro. 

 

Alisson Barcelos – Para finalizar, como será o 2021 para vocês?

Marina Tavares – Temos diversos planos para este ano, entre eles realizar o que não foi possível no ano passado, mas enquanto seguirmos na pandemia, e com todas essas restrições, eventos como o Curta o Parque, o “Hoje é dia de jazz, bebê”, as exposições indoor e apresentações que aglomeram pessoas vão ter de esperar. Não queremos proporcionar experiências pela metade, então só realizaremos quando realmente for possível e quando ninguém correr mais riscos de infecção. Em relação ao Street Art Tour, tentaremos seguir nosso planejamento. Queremos entregar até o início do segundo semestre mais um grande mural para cidade, desta vez com arte abstrata. Pretendemos fazer outras ações como o Galeria Vertical (ação do Abraão). Também continuaremos com o trabalho de divulgação de artistas e seus trabalhos em nossas redes sociais e no Aplicativo do SAT, de ampliar a interatividade dos artistas com o aplicativo. Nossa ideia é de que ele se torne uma potencial vitrine para o trabalho deles.
 

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Enquanto a vacina não vem…

… e a população não se conscientiza de que é preciso tomar medidas para prevenir transmissão e contágio pela Covid-19, as prefeituras já começaram o ano anunciando os cancelamentos dos carnavais em Santa Catarina e no Brasil. Aqui no estado, foram cancelados os festejos de momo nas cidades de Florianópolis, Balneário Camboriú, Laguna e São Francisco do Sul. Na Capital, o tradicional bloco do Berbigão do Boca comunicou que não irá às ruas neste ano.  

 

Quer sugerir algum tema para a nossa coluna? Entre em contato pelo e-mail: [email protected].

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