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SÉRIE | Jornalismo no papel e no digital. O que pensam as entidades do Trade da Comunicação
06 de Novembro de 2019

SÉRIE | Jornalismo no papel e no digital. O que pensam as entidades do Trade da Comunicação

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Caros Leitores!

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O prenúncio do fim do jornal impresso teve início há alguns anos em vários pontos do planeta. As primeiras notícias vieram dos Estados Unidos e Europa, onde alguns gigantes da mídia impressa anunciavam a decisão de encerrar a publicação diária de jornais em papel. Isso acendeu um alerta nos meios de comunicação para a evolução da tecnologia no setor, o que viria a ser chamada mais adiante de “a fúria Armagedon das mídias digitais”.

Em meados de 2018, o CEO do New York Times, Mark Thompson, numa entrevista para a CNBC declarou que acreditava que o jornal impresso duraria mais 10 anos nos Estados Unidos e que, mesmo querendo manter “por mais tempo possível”, admitia que o tempo do jornal físico já estava expirando. Thompson disse à época que planejava manter seu público fiel do jornal impresso enquanto melhorava a plataforma online para garantir sucesso após o fim do impresso.

 

O Independente
Um dos casos que mereceu grande atenção foi o do jornal The Independent, um dos jornais britânicos de maior circulaçao nacional. Fundado em 1986 como um jornal diário nacional logo viu crescer sua circulação em nichos através de uma abordagem editorial provocativa que envolvia a trombeta de seus analistas políticos, independência e foco nas artes, que se mostraram particularmente atraentes para os leitores mais jovens. Chegou a ter nos dias úteis uma circulação perto de 390.000 exemplares. A partir de 2010 os leitores do impresso começaram a declinar e, depois de alguns anos de perda financeira, e com a circulação com menos de 60.000 exemplares, a empresa decidiu em 2016 parar de imprimir o The Independent.

 

Estados Unidos
O jornal “The New York Observer”, publicação semanal voltada à elite de Nova York, deixou de circular após completar 30 anos. De propriedade de Jared Kushner, enteado de Donald Trump, o semanário lançou a coluna “Sex and the City”, de Candace Bushnell, que veio a se tornar um famoso seriado de TV. A última edição saiu na quarta-feira. O veículo continua no ar com seu website, Observer.com. A decisão de tirar “New York” do nome é sinal do fim de uma era, aponta o “New York Times”, está em linha com o fim da cobertura local por outros veículos. “O Wall Street Journal” publica pela última vez a sessão “Greater New York” neste sábado. O “Daily News”, cuja equipe já encolheu, anunciou rodadas de cortes nesta semana. O “New York Times” está repensando sua seção “Metro” e deve se focar mais em audiências globais. O presidente do “The New York Observer”, Joseph Meyer disse que o encerramento da edição impressa faz parte do caminho natural de busca por uma audiência nacional, no contexto da redução de anúncios impressos. Meyer, que é cunhado de Jared Kushner, afirmou que a ideia já estava em discussão havia dois anos.
NOTA: Esta noticia é de novembro de 2016 do Jornal O Globo.

 

Brasil
O caso mais notável do jornal impresso migrando para o digital no Brasil foi o da Gazeta do Povo, do Paraná, que no dia 31 de maio de 2017 informava seus leitores sobre a decisão de encerrar a edição de jornal em papel. “A edição desta quarta-feira é a última da Gazeta do Povo impressa em papel jornal, entregue diariamente no endereço de dezenas de milhares de assinantes e em bancas da grande Curitiba e de cidades do interior e do litoral do Paraná. A partir de amanhã, dia 1º de junho de 2017, a Gazeta passará a circular exclusivamente em suas plataformas digitais”.

Neste ano, quando se teve acesso ao resultado da mídia brasileira em 2018, o que se via eram avaliações negativas para a maioria dos veículos brasileiros de comunicação com a queda do “bolo publicitário”. No caso do meio jornal, os mais impactantes foram esses 3:
. O lendário Diário de S. Paulo teve falência decretada pela Justiça em 22 de janeiro.
. O jornal A Cidade, de Ribeirão Preto (SP), deixou de circular a versão impressa em outubro. Existia há 114 anos. 
. O jornal Gazeta de Alagoas, 84 anos, deixou de circular a edição impressa em novembro.

 

Santa Catarina
O dia 26 de outubro de 2019 marcou o fim da circulação diária das versões impressas dos quatro jornais da NSC Comunicação, maior grupo de comunicação de Santa Catarina, que decidiu concentrar seu foco nas plataformas digitais. Leia aqui sobre esse assunto.  Na cidade de Florianópolis o jornal impresso que competia com o Diário Catarinense era o Notícia do Dia, do Grupo RIC que, segundo o IVC circulava com algo em torno de 40% da circulação do DC. A direção do Grupo RIC decidiu implementar esforços por meio de várias ações visando conquistar a assinatura de leitores fiéis ao jornal em papel e, segundo um profissional daquele grupo, anteriormente incrementava 80 assinaturas em média por mês e nos primeiros 3 dias de campanha vendeu 294 assinatruras. 

 

Oportunidade para os regionais
O que se verifica nos jornais de São Paulo e Rio de Janeiro é a tendência de tornar o impresso cada vez menos nacional, deixando essa missão para o digital, e focando em assuntos regionais e locais. Isso ainda é um aprendizado, pois a estrutura das redações já não é mais a mesma de antes e há todo tipo de concorrência nessa busca pelo localismo. Os influencers e a infinidade de sites, blogs e ativistas nas redes sociais estão aí para confirmar essa realidade. “Quando a internet se estabeleceu como meio de comunicação de massa, banners e pop ups rendiam volumosas rendas publicitárias. A ideia era que, finalmente, o cliente pagaria por uma publicidade que atingiria o público certo. Em pouco tempo, constatou-se que isso não funcionava bem assim e as redes sociais, por meio dos algoritmos, também venderam esse peixe. Os tais influenciadores digitais, por falarem para públicos específicos também são mais sedutores para os anunciantes”, Alexandre Barbosa, professor da Fapcom.

CENÁRIOS
O AcontecendoAqui foi buscar junto aos profissionais que atuam em Santa Catarina uma visão sobre o que poderá acontecer com os meios de comunicação na Região a partir da decisão da NSC em parar de imprimir jornais diários no Estado. Dividimos o resultado desse levamentamento em cinco capítulos: 
– Entidades do Trade;
– Anunciantes;
– Publicitários;
– Jornalistas;
– Universidades. 

A primeira parte da Série está sendo publicada hoje, dia 5 de novembro de 2019, com as opiniões dos dirigentes da ACI, ACIF, ADI, ADJORI e SINAPRO. Convidamos nossos leitores a comentarem com suas opiniões logo abaixo da publicação onde se encontra o campo COMENTÁRIOS. Dessa forma profissionais e acadêmicos ganharão importante contribuição para suas carreiras e negócios.

Jailson de Sá
Editor

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ACI – Associação Catarinense de Imprensa
Mesmo entre estudiosos e especialistas em comunicação há  dúvidas sobre o formato definitivo  dos jornais no futuro. Meses atrás a Associação Catarinense de Imprensa (ACI) Casa do Jornalista recebeu o professor inglês Keith Perch, vencedor do prêmio Bafta. Ele, que foi responsável pelo desenvolvimento de negócios digitais do grupo Daily Mail no início dos anos 2000, veio falar sobre a experiência européia e levantou questionamentos muito pertinentes e até preocupantes para todos. A mudança de hábitos de consumo de informação é uma realidade- e  a necessidade de buscar meios de manter o negócio jornal saudável  diante de receitas em queda, um grande desafio para todos. 

Mas algo é inegável: há uma necessidade humana por conhecimento e informação. Necessidade que ainda é suprida diariamente pelos jornais. 

Acredito que os novos produtos da NSC estão passando por uma fase de ajustes importante e necessária diante de mudanças tão profundas quanto as ocorridas há pouco. Ainda parece cedo para dizer como leitores e anunciantes vão se comportar.

O fundamental, no momento, é que as empresas atentem para a ideia de que o conteúdo de qualidade é fundamental para atrair o leitor e invistam em profissionais e estrutura. A produção de conteúdo exige a manutenção de equipes profissionais qualificadas. 
 A ACI também busca adaptação e vem estimulando discussões sobre o presente e o futuro da comunicação para ajudar a preparar jornalistas para essa nova realidade do mercado.

Ademir Arnom – Presidente da ACI-Associação Catarinense de Imprensa e Casa do Jornalista

 

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ACIF – Associação Comercial e Industrial de Florianópolis
A notícia do fim da circulação do DC e demais jornais da NSC provocou surpresa, pois já estávamos muito acostumados com esses veículos em nosso dia a dia. Não só pela tradição destes veículos, mas também pelos jornalistas associados a estes jornais. No entanto, precisamos respeitar a decisão empresarial de fazer a conta fechar no final do mês, para manter os empregos que não foram perdidos. Sem dúvida que fica uma lacuna – tanto para os assinantes quanto para os empresários, anunciantes e agências. Mas o que precisa ficar claro na memória de todos é que se trata de um negócio e, como negócio, precisa se sustentar. A decisão de migrar para o digital me parece algo lógico e também não chega a ser uma novidade do ponto de vista do segmento. Alguns jornais já fizeram isso há bastante tempo. O tradicional só é assim por que tem mercado. Se não tem mercado, não tem como se manter.

Em Florianópolis, especificamente, ainda temos um jornal muito importante, que é o Notícias do Dia, que vai ocupar um novo espaço e desejamos que tenha muita prosperidade, pois faz um papel importante. Os leitores estavam habituados com uma marca e passam a ter no ND a opção no impresso. O mercado se regula e esperamos que tenhamos uma sequência positiva para todos.

O cenário será de diversos canais e comunidades envolvidos com diferentes temas – e também acredito muito na força da comunicação regional. Aposto tanto no digital quanto no impresso, creio que são meios complementares, mas a conta no final deve fechar. A mídia também precisa inovar, ainda há espaço para novas mudanças, os consumidores estão cada vez mais interessados em interagir.

Rodrigo Rossoni, Presidente da ACIF – Associação Comercial e Industrial de Florianópolis

 

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ADI Santa Catarina
O olhar para a Mídia Regional vem crescendo já há algum tempo e a realidade do jornal impresso é mundial. Caem as tiragens dos jornais de ciriculação nacional e crescem as dos  jornais regionais. Veja os casos dos jornais de São Paulo, o Correio Braziliense e tantos outros que circulavam no país todo e há um bom tempo encolheram para os seus estados.
Em Santa Catarina também temos casos como o do Jornal O Estado e a própria A Noticia quando foi adquirida pela RBS que pouco tempo depois mudou o formato, a proposta jornalística e a tiragem. E, agora, temos essa decisão da NSC com seus quatro jornais só produzidos no Digital. Entendo que a estratégia deles foi um pouquinho forçada, um tanto  precipitada, pois poderiam ter mantido o jornal nas regiões onde eram fortes – Joinville e Florianópolis – e ir encolhendo aos poucos. 

Acredito que essa decisão possibilita uma força para alguns jornais regionais que estão se movimentando para também atender o público  que só consome a informação pelo digital . O grupo de jornais da ADI tem mais de 10.000 page views diários. Mas ainda tem muita vida nos jornais impresssos em Santa Catarina como os das regiões de Chapecó, Itajaí, Brusque, Criciúma,  Jaraguá do Sul e, assim por diante, onde se localizam grandes jornais. 

Acredito que ainda teremos uma vida bem longa com os jornais diários no papel e com os portais complementando os leitores que estão online ou que estão mais distante de suas cidades. E os mais próximos regionalmente é claro eles vão ler o jornal impresso há uma tendência e diminuindo mas vai diminuir os grandes jornais 

Entendo que no Brasil cada vez mais tem gente lendo jornal pelo seu tablet ou celular através da internet, mas ainda tem muita gente lendo jornal impresso. E nós da ADI Santa Catarina temos uma força grande com os impressos e portais já que fazemos um trabalho diferenciado e estamos mantendo nossas empresas jornalísticas na linha da comunicação séria.

Lenoires da Silva, presidente da ADI – Associação dos Diários do Interior – SC

 

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ADJORI/SC  
A meu ver, a tecnologia transformou o papel do jornal na sociedade e a discussão sobre o futuro dos jornais impressos é inevitável. Hoje, a presença das redes sociais e das mídias digitais são tecnologias que mudam radicalmente a forma de se comunicar. Porém, o Jornal Impresso ainda tem presença forte como Mídia Regional. O Jornal tem um papel essencial, que é levar a informação e isso independe da plataforma. Entregamos aos leitores informações de seu universo local e regional e defendemos que ainda há e haverá, por longo tempo, vida para o jornal impresso principalmente no interior. É fato que nos dias de hoje nossos impressos são muito mais analíticos do que factuais. 
A decisão tomada recentemente pelo Grupo NSC de parar com a circulação dos seus tradicionais jornais impressos impactou fortemente o mercado e principalmente os assíduos leitores destes em papel. Entendemos que tal medida se dá em vista da realidade de mercado para os meios de Comunicação, que vivem uma das maiores transformações deste modelo tradicional para o digital. 
O produto impresso da NSC era qualificado. Para levar esta mesma qualidade para o ambiente on-line, é preciso que o grupo invista em uma nova linguagem, novas tecnologias e uma nova forma de entregar o produto, diferente do que se faz até então. 
Apesar da crise que atinge a imprensa, os jornais do interior se mantêm firmes e fortes, por conhecerem profundamente a realidade de suas comunidades e principalmente porque estes veículos têm produção de conteúdo próprio, sem depender do que é pautado nos grandes centros. Além disso, os jornais da Adjori/SC já fizeram, ou estão em fase de transição, com presença ativa na internet, o que só aumentou a credibilidade e abrangência destes periódicos. 
Não tenho dúvidas que nossa presença continuará forte e atuante. Como impresso, o segredo de mantermos presentes está no fato que nos diferencia da grande imprensa: nós entregamos aos leitores informações de seu universo local e regional, por isso ainda há e haverá por longo tempo vida para o jornal impresso no interior. Uma grande distância nos separa da chamada grande imprensa. Somos nós quem pautamos o dia a dia dos municípios e das pessoas que lá vivem. 
O hábito da leitura é extremamente importante. A leitura representa fonte do conhecimento, pois é por meio dela que se adquire uma percepção do mundo. Além disso, a leitura oferece também uma contribuição no funcionamento e desenvolvimento do pensamento crítico, levando o leitor a questionar e a avaliar a vida, sob todos os aspectos.

José Roberto Deschamps, presidente da ADJORI/SC – Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina

 

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SINAPRO-SC
Percebemos que o mercado da mídia sofre, cada vez mais, a forte influência das novas tecnologias oriundas do meio digital. O reposicionamento dos jornais no mercado é também um movimento de adaptação à essa nova realidade. A busca pela informação confiável, em tempos de fake news, mais do que nunca, continua existindo. A credibilidade do meio jornal e a sua participação na construção da cidadania são incontestáveis – independente da plataforma.

Naturalmente, os tradicionais leitores dos jornais, acostumados a encontrar as notícias no papel, agora são frequentemente impactados pelas notícias que se multiplicam nas plataformas digitais. A leitura de todos os dias virou a leitura de todas as horas. Neste novo cenário, existe uma atenção especial à publicidade. Agências e anunciantes acompanham a formação e consolidação deste novo formato, buscando uma rápida assimilação dos novos paradigmas e se ajustando aos novos parâmetros do mercado.

Com relação ao exemplo que possa ser seguido por outros impressos, não se trata, a meu ver, de um gatilho para que aconteça um movimento de forma massiva ou articulada. Acredito que cada empresa de comunicação perceberá e construirá essa mudança no seu próprio ritmo e momento específico, de acordo com a sua visão e a sua estratégia de negócios. No meu caso, iniciei minhas atividades publicitárias no Jornal Diário Catarinense, no final da década de 1990. Tínhamos por hábito fazer a leitura diária dos jornais, costume que preservo até hoje.

O mercado da comunicação vive um processo de transformação, já iniciado há algum tempo. Por isso, analiso esse fato com certa naturalidade. As agências, veículos, fornecedores e anunciantes estão, aos poucos, se adaptando a este novo contexto. Visualizo um cenário de adequação e amoldamento. Os veículos de comunicação devem seguir seu caminho, mostrando seu impacto positivo para as pessoas, trazendo conteúdo com relevância, gerando envolvimento, oportunizando entretenimento para o público e resultado para os anunciantes – independentemente da plataforma.

Flávio Jacques, presidente do Sindicato das Agêncais de Propaganda do Estado de Santa Catarina

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