Que os jornais têm publicado cada vez menos notícia, e mais publicidade, ou algo que chame a atenção do público para que comprem uma edição deles não é novidade. Mas e se um jornal resolvesse publicar a Mein Kampf, autobiografia e manifesto político do odiado ditador nazista Adolf Hitler? Foi o que o jornal italiano Il Giornale, de Milão, fez no último sábado, dia 11 de junho.
O jornal conservador usou como justificativa, segundo seu editor-chefe Alessandro Sallustri à Al-Jazeera: “Conhecê-lo, a fim de rejeitá-lo. Estudar o mal para impedir que isso aconteça novamente, talvez em formas novas e enganosas. Esse é o propósito real e só o que temos feito.”
Muitos não se convenceram com a explicação do jornal. O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, em um post no Twitter, chamou o movimento de “desprezível”, e ofereceu seu “abraço afetuoso à comunidade judaica”, acrescentando também a hashtag que se traduz como “Nunca mais”.
Se na Itália a obra foi disponibilizada para o grande público, na Alemanha é bem diferente. Mein Kampf há décadas foi terminantemente proibido de ser impresso pelas editoras, e seu copyright é propriedade do Estado da Baviera. O documento é de propriedade de Paolo Berlusconi, irmão do ex-primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que serviu como seu editor 1977-94. No entanto, o copyright expirou no início do ano, e uma versão anotada do livro circula pelo país. Pessoas ouvidas nas ruas acreditam que a publicação de uma versão do livro sem anotações violaria as leis alemãs Volksverhetzung, que proíbem incitar o ódio.
A mensagem do primeiro ministro italiano foi ecoada através do presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas, Renzo Gattegna, que falou que a disponibilização da obra “está a anos-luz de distância de toda a lógica de estudar o Shoah e os diferentes fatores que levaram a humanidade inteira a afundar em um abismo de ódio sem fim, a morte e violência.”
Com informações e imagem do Los Angeles Times.