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Coluna Paulo Lamim – A vida não se compra
08 de Junho de 2016

Coluna Paulo Lamim – A vida não se compra

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Ao ouvir o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, no documentário Human, achei que era a reflexão ideal para introduzir o tema que apresento aqui. Mujica diz que para sustentar a sociedade de consumo que inventamos e que precisa sempre crescer para que não aconteça uma tragédia, introduzimos uma infinidade de produtos supérfluos. Defende que quando compramos algo, não estamos comprando com dinheiro, e sim com o tempo de vida que gastamos para consegui-lo. Com a diferença de que a única coisa que não se pode comprar é a vida. A vida se gasta.

Olha, para mim esse negócio aí faz todo sentindo do mundo. No fundo, acredito que a maioria das pessoas, de alguma forma, pensa a respeito e concorda com essa ideia, só que ao mesmo tempo sente que a vida está no piloto automático e que quase todo mundo está correndo atrás de fazer o que a sociedade “espera de nós”.

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E aí? Será que quem enxerga isso tem força para mudar a lógica do mercado e a própria conduta? De uma hora para outra, creio que não, mas se prestar atenção nas tendências e alternativas relacionadas ao consumo que já estão acontecendo, dá para perceber que está vindo um montão de coisas novas bem interessantes pela frente. Veja esses cinco exemplos que reuni aqui.

  • Consumo consciente: é um movimento que entre muitas outras coisas, prioriza a escolha de produtos mais duráveis, de origem local, sustentável, e que visam a satisfação muito mais pela experiência e uso do que pela posse material.
     
  • “Não-consumo”: são algumas alternativas que podem ser consideradas antes de partir para a compra de algo novo, que envolve trocar, alugar, pegar emprestado, consertar o que já tem, comprar usado, fazer você mesmo ou encomendar de um profissional ou artista local.
     
  • Feiras de troca: trata-se de uma ideia bem simples e que tem acontecido muito por aí, de reunir um grupo de pessoas para praticar a “arte do desapego”, no qual se separa os objetos em bom estado e sem uso, e os leva para a trocar por outros, como livros, roupas e brinquedos.
     
  • Plataformas de compartilhamento: são os serviços baseados no conceito de economia colaborativa e orientados para o compartilhamento, troca ou aluguel de bens e serviços entre pessoas. As aplicações são as mais variadas, e alguns dos mais conhecidos são o Airbnb, Uber, BlaBlaCar, MobyPark e EatWith.
     
  • Capitalismo consciente: é um movimento que começou nos Estados Unidos e que já conta com uma iniciativa também no Brasil. O foco está na busca de um propósito maior para os que trabalham no mundo corporativo e em mostrar que fazer a coisa certa pode sim ser um ótimo negócio.

     

Além de abrirem a possibilidade de ganharmos mais “tempo de vida”, essas alternativas trazem junto uma vivência diferente e uma história para contar. Oferecem a oportunidade de nos conectarmos com outras pessoas e falarmos depois sobre elas, os lugares e os acontecimentos interessantes relacionados a experiência de uso do produto e sua procedência.

Pense bem, o consumismo exagerado e ostensivo não revela muita coisa sobre uma pessoa, além da capacidade de gastar, alguma ingenuidade, um certo conformismo e falta de consciência.

A chave é se encontrar em quem você realmente é e escolher produtos e serviços que reforcem essa essência, obtendo assim satisfação verdadeira.

Com crise ou sem crise, todas essas alternativas estão aí disponíveis para você experimentar e tirar suas próprias conclusões. Enquanto finalizo este material, estou aqui separando alguns livros e pensando em outros objetos para levar e participar daqui a pouco da minha primeira feira de troca.

Ficou curioso? Vai lá e experimenta também, pode ser que descubra que está dando de presente para si mesmo um bom tempo de vida.

 

Paulo Lamim é Engenheiro de Produção pela UFSCar, com MBA em Administração pela USP e MBA em Marketing pela FGV. Tem mais de 20 anos de experiência com o desenvolvimento de novos produtos e serviços, marketing, estratégia de negócios e inovação tecnológica, tendo atuado em empresas como AmBev, Coca-Cola, TIM, Vivo e Intelbras.  Atualmente é o responsável pela área de Novos Negócios no Centro de Convergência Digital da Fundação CERTI.

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