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Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada:  Lembra do César de Alencar?
28 de Junho de 2017

Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada: Lembra do César de Alencar?

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Estamos em 1959 e 90 por cento de meu tempo na Lever é aplicado em Rinso e sua campanha de introdução no mercado. 
 
Claro que hoje as ferramentas seriam outras, mas naquela época estávamos usando tudo que dispúnhamos para vendas, demonstrações e promoções. Investimento enorme, que se sustentou por mais de um ano, proporcionando resultados melhores do que os esperados, para alegria da empresa e de todos os envolvidos no planejamento e, onde eu participava ativamente, coordenação e campo. 
 
Atacávamos uma cidade com ações articuladas e extremamente rápidas: equipe de vendas que cobria a praça em uma semana no máximo; entrega imediata do produto; equipe de promotoras que expunham o produto nas lojas e exibiam cartazes e outras peças; promotoras que faziam visitas domiciliares para entrega de folders e convites para o cinema; sessões de cinema para demonstração; demonstração nas ruas, num caminhão especialmente construído; forte divulgação em rádio e TV. A blitz terminava com a premiação às donas de casa sorteadas entre as que haviam comprado Rinso.
 
A entrega dos prêmios – geladeiras, máquinas de lavar roupa e panelas de pressão – era feita em um auditório, com show musical e um mestre de cerimônias escolhido entre artistas de repercussão no nosso público. 
 
Naquela época, a televisão se expandia, mas bem no começo, e o rádio era ainda o grande veículo de comunicação. Como consequência, atores de rádio novelas, apresentadores de programas de calouros e de entrevistas, cantores, eram os ídolos do público. A cobertura de mídia era regional, com poucas emissoras projetando seu sinal muito além das fronteiras da cidade ou do estado, sendo exceção a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que oferecia maior abrangência, atingindo praticamente todo o território brasileiro. 
 
Cantor, compositor, radialista, locutor e apresentador de rádio e televisão, César de Alencar ganhou grande notoriedade como homem de rádio. Mantinha um programa com seu nome na Rádio Nacional, lançando grandes artistas como Emilinha Borba e Marlene. O programa era feito em um auditório para 600 lugares e quando completou10 anos comemorou no Ginásio do Maracanãzinho numa festa com mais de 20 mil pessoas, o que atesta o prestígio que gozava.   César de Alencar era nacionalmente conhecido e aclamado, mais ou menos como Faustão é hoje. Para o segmento de nosso interesse, as donas de casa, era o interlocutor ideal.
 
O que quero relatar aqui aconteceu em Belo Horizonte. O show final, para entrega dos prêmios se realizou num grande auditório, com a presença de uma atriz local e César, nosso representante estelar. Foi um grande sucesso, como de costume acontecia e, terminada a sessão, saímos para comemorar. Fomos todos, por sugestão do supervisor de vendas em BH, a uma casa noturna. 
 
O Montanhês, muito grande, estava já lotado quando lá chegamos. Mas o gerente, alertado pelo porteiro, foi nos receber, nos fez entrar e ocupar uma mesa que estavam acabando de trazer e colocar bem na frente da pista de dança. Toalha novinha, em contraste com as que se percebia manchadas nas outras mesas. Tudo por conta da presença de César de Alencar na casa, uma honra.
 
Foi um alvoroço, com grande alegria. Mulheres pedindo autógrafo e querendo dançar com ele, cerveja e comida em quantidade. César, discreto, permaneceu na mesa, atendeu a quem o procurava com simpatia e atenção, soube cuidar direitinho da imagem que desfrutava. O assédio durou o tempo todo em que lá estivemos e eu, acreditem ou não, acabei também dando autógrafo, porque alguma das tietes provavelmente me confundiu ou pensou que eu poderia vir a ser um star no futuro. Sei lá… O fato é que nos divertimos imensamente. 
 
Saímos do Montanhês e fomos dormir, com a consciência do dever cumprido pela campanha encerrada, e tendo a mais barata comemoração de fim de campanha em toda a temporada – tudo de graça, em homenagem ao grande radialista, César de Alencar.
 
Mas se nossa campanha tivesse acontecido poucos anos depois, não teria sido ele o escolhido, pois de personalidade aclamada passou a ser execrado, por ter delatado colegas de profissão que não aderiam ao movimento militar de 1964.
 
Na próxima tem Beatles. Ate lá.

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