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Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada: Data vênia Ministro, não é por aí.
11 de Setembro de 2017

Coluna Julio Pimentel | 60 anos na estrada: Data vênia Ministro, não é por aí.

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Nestes 60 anos em marketing e comunicação, trabalhei em várias campanhas eleitorais, começando nos anos 80 em São Paulo com Orestes Quércia e depois com candidatos a governador em Sergipe e Santa Catarina, prefeitos em Chapecó e Blumenau, presidente da OAB/SC, reitor da UFSC e candidatos em eleições proporcionais. Cada um desses trabalhos, que muito prezo, vale um capítulo específico, mas não é o que pretendo aqui e sim comentar a Reforma Política em curso no Congresso Nacional, com a pretensão de fazer isso amparado pelo crachá de marqueteiro político que aquelas campanhas me proporcionam.

Aliás, esta expressão, marqueteiro, começou a ser usada com sentido pejorativo após a bem sucedida campanha presidencial desenvolvida para Collor pela Propeg, quando eu ainda lá estava e que acabou ajudando a moldar o termo assim que começaram a surgir as acusações contra ele. Relacionado a isso, lembro-me de um artigo escrito há muitos anos por Mauro Salles onde afirmava que, contrariamente ao que muitos faziam no check-in de hotéis, ele, com muita honra preenchia a ficha como “publicitário”. Pois bem, hoje, ser marqueteiro ou publicitário soa muito pouco como galardão honorífico e muito mais como sinônimo de ganhador de milhões depositados fora do país. É bom esclarecer que isso é mesmo verdade, mas para muito poucos, o que definitivamente, não é o meu caso.

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O fato é que estão presos os publicitários e/ou marqueteiros João Santana, Mônica Moura, Marcos Valério, André Gustavo, o que certamente deve deixar apavorados outros profissionais, cujos nomes ainda não foram pinçados do emaranhado de campanhas eleitorais, mas podem vir a ser. O próprio Duda Mendonça, que confessou no processo de Mensalão ter recebido milhões em paraíso fiscal, mesmo em liberdade, pelo que se sabe prepara colaboração que, se efetivada, vai complicar muitos políticos e empresários.

Mas vamos ao tema: a tão desejada e indispensável reforma política. 

Está em curso, mas por caminhos tortuosos que vão consumir meses, talvez anos de discussões, e provavelmente pouco afetará o pleito de 2018, a não ser talvez pela cláusula de barreira, que pretende limitar o número de partidos e sua proliferação indiscriminada. É verdade que só isso já pode representar um avanço importante, mas salta aos olhos o que está se tentando tramar no Congresso, ignorando o bem da nação, da sociedade, de 200 milhões de pessoas, para se restringir aos interesses escusos de um milhar de aproveitadores, garantindo imunidades, vantagens para reeleição, a manutenção do pernicioso estado de coisas. No bojo dessas “reformas” está a intolerável criação de um fundo multibilionário para custear as campanhas, que vai se somar a quase outro bilhão do Fundo Partidário e ao famigerado “horário gratuito” na TV, que deveria ser extinto, pois que de gratuito não tem nada, ou melhor, só é de graça para os partidos, mas que determina diminuição dos impostos recolhidos pelas emissoras, o que resulta em menor arrecadação, portanto menos serviços para a população que, essa sim, paga. 

Então, o que se deveria estar propondo? 

No que concerne ao financiamento de campanhas, seu barateamento e a regulação da transparência total da captação dos recursos e sua utilização. Sabemos todos que bastaria uma pequena parcela do que estão querendo os políticos, se fosse feito apenas o necessário e a custos de mercado.

Pois bem, agora vem o polêmico ministro do TSE e do STF, Gilmar Mendes, apresentar proposta à Câmara de Deputados para baratear campanhas. Mas ele o faz querendo legislar sobre a forma das campanhas que, segundo ele, na TV deveria apresentar apenas o candidato sentado a uma mesa tendo a câmera à sua frente.

Podemos até admitir que seja considerada uma iniciativa de boa fé, mas obviamente faltou conhecimento e adequada assessoria ao ministro, por pelo menos duas razões: primeiro porque é muito pouco democrático determinar que campanhas sejam produzidas como ele imagina que devam ser; e depois, porque com os recursos tecnológicos disponíveis hoje, pode-se produzir peças para televisão impactantes a um custo irrisório. Essa é missão de quem cria e produz, não de quem legisla.

O importante é o conteúdo, ministro, a forma é acessória.

O que deve ser proposto é uma drástica limitação de gastos nas campanhas e deixar que os candidatos, suas equipes e suas agências se virem para conseguir o melhor. Vamos todos, mais que torcer, agir para que seja assim e que se chegue lá.

Com todo respeito, ministro, o caminho é por aí e não o que o senhor propõe.

Na próxima volto às minhas vivências no caminho sexagenário do marketing e da publicidade. Até lá.

 

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