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Coluna Fabrício Wolff | Não tô entendendo
10 de Outubro de 2017

Coluna Fabrício Wolff | Não tô entendendo

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Por Fabrício Wolff 10 de Outubro de 2017 | Atualizado 10 de Outubro de 2017

É cada vez mais visível a dificuldade de grande maioria das pessoas em compreender as mensagens emitidas e das quais são receptoras. Cada vez mais é preciso “desenhar” aquilo que se quer dizer. Caso contrário, é imensa a chance de não ser compreendido, de ser mal interpretado, de não se fazer entender. O fato demonstra duas verdades incontestáveis: que o hábito da leitura faz extrema falta em um país onde os livros são preteridos em um momento onde as redes sociais dominam a “comunicação” e que o grande número de analfabetos funcionais produzidos em nossas escolas naturalmente inibe o ato de pensar. 

Essas verdades afetam o processo da comunicação. Na teoria (e na prática) ele é composto por seis elementos básicos, nos quais o emissor da mensagem, seu receptor e a própria mensagem são fundamentais. O princípio da boa comunicação é que o emissor projete sua mensagem de tal forma que o receptor, além de entendê-la, tenha condições de reagir/interagir a ela. Porém, com receptores tão despreparados, o trabalho do emissor fica muito mais difícil. Não basta dizer, é preciso fazê-lo ao mesmo tempo esclarecendo. Não basta dizer e esclarecer o que está dizendo; na maioria das vezes é preciso “desenhar” a mensagem para que não haja dúvidas nem mal entendidos.

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As pessoas, de maneira geral, não percebem o que a má recepção de uma mensagem pode produzir, mas ela é fatal para organizações (empresas) e para as pessoas (sociedade). Mal-entendido gera dúvida, problema, confusão, desperdício de energia e, quase todas as vezes, prejuízo – financeiro ou pessoal. Como já disse em outros textos desta coluna, comunicação eficiente é o que há. Porém, com receptores tão mal preparados para receber a mensagem, está cada vez mais difícil propor uma comunicação que dê resultados. E, não tenha dúvidas, isto se dá pela falta de preparo da grande maioria das pessoas. Elas costumam ver, mas não enxergar; ler, mas não entender. Diante deste quadro, falar em interpretação é utopia.

O estudo dos níveis de leitura diz que há quatro estágios deles: a intelecção (entendimento puro e simples da mensagem; ou seja, conseguir codificar o significado das palavras), a compreensão (que é a capacidade de entender mais profundamente esta mensagem a ponto de conseguir expressá-la em suas próprias palavras), a interpretação (a capacidade de ver nas entrelinhas das mensagens e das palavras, intertextualizando conhecimentos a ponto de chegar a conclusões próprias) e a extrapolação (que se divide em positiva e negativa e é a capacidade de enxergar além do que o emissor quis dizer). Duro vislumbrar que a maioria dos brasileiros não passa do primeiro nível. Tanto é, que exemplos como o da foto desta coluna (do elevador do edifício de clínicas médicas, em Blumenau) não só são verídicos, como necessários.

Resumindo, estamos em um país onde as pessoas não compreendem o básico do que é dito. Muita gente fala (nas redes sociais, especialmente) em opinião, quando mal e mal tem capacidade para reproduzir com suas próprias palavras aquilo que ouviram falar. Vemos isto a toda hora. Dos comentários de Facebook, cheios de “razão” sem qualquer conhecimento do tema abordado, ao cidadão que aperta o botão “sobe”, no elevador, quando na verdade quer descer, somos um país formado por uma imensa maioria de pessoas não preparadas para pensar. Ao mesmo tempo, vemos muitas escolas em frangalhos por este país afora, professores não valorizados e uma geração que acredita que as redes sociais substituem os livros.

Assim, há quem possa duvidar – sem que esteja totalmente desprovido de razão – de que um dia tenhamos uma democracia salutar onde os cidadãos possam exercer seu direito com o voto consciente.

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