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Coluna Fabrício Wolff | Comunicação na época de eleição – V
05 de Outubro de 2018

Coluna Fabrício Wolff | Comunicação na época de eleição – V

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Por Fabrício Wolff 05 de Outubro de 2018 | Atualizado 05 de Outubro de 2018

Como explicar que está na frente da preferência popular um candidato que não teve tempo de televisão, não tem coligação partidária (para potencializar a comunicação corpo a corpo de uma campanha), e, por conta de um atentado, não pode participar de debates e sabatinas de rádio e televisão e nem mesmo de contatos pessoais com os eleitores durante a reta final da campanha? Como explicar este fenômeno em que a não-comunicação está vencendo as possibilidade de comunicação? Definitivamente é uma eleição diferenciada, pitoresca até. Um estudo científico baseado em teorias e pesquisas seria bem apropriado para buscar uma explicação. Enquanto ela não é apresentada para nós (porque imagino que alguém já esteja se agilizando para fazer um estudo desses), nós vamos teorizando por aqui, mesmo sem embasamento científico…

Em primeiro lugar, é inequívoco que as redes sociais se tornaram agentes de informação e convencimento mais importantes que a própria mídia, especialmente quando se fala de horário eleitoral gratuito e debates. O formato desses programas cansou. A população se desinteressou. Ela prefere pesquisar e interagir na internet do que ouvir aquilo que eles querem falar – afinal, cada um só fala bem de si. 

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Na web é possível pesquisar a vida pregressa de todos. Em segundo lugar, é fato que as pessoas estão cansadas da política por causa de tanta corrupção e desmandos noticiados nos últimos tempos. Logo, com a credibilidade dos políticos em baixa, o eleitor prefere decidir em quem votar (ou não) por critérios muito próprios. Com isso, o desinteresse em ouvir os candidatos e suas propostas caiu ainda mais e a comunicação midiática impacta ainda menos na decisão do eleitor. Aliás, a corrupção em alta catapultou Jair Bolsonaro para a preferência do eleitorado. Nasceu aí um viés patriota, como uma forma de resgatar um Brasil menos corrupto. 

Em terceiro lugar, é fato que a grande maioria do eleitorado vota emocionalmente e não racionalmente. Talvez isto explique a grande preferência por Jair Bolsonaro, um candidato que tem contra si a falta de tempo de televisão, a falta de dinheiro público do fundo partidário, a falta de monstruosos apoios coligados, e o próprio sistema como um todo, onde a grande mídia tem papel relevante. Tudo isso cria no imaginário popular uma espécie de Dom Quixote. Para melhorar sua situação teve contra (ou a favor de) si um atentado. Este tese do voto emocional é corroborada pelo segundo lugar nas pesquisas, que herdou a candidatura de um ex-presidente preso por corrupção e cuja figura ficou ligada a uma espécie de “pai dos pobres”.

Outras análises são possíveis neste quadro impensável há alguns anos onde a comunicação “oficial” deixou de ser mais importante para uma eleição deste porte do que as redes sociais, com destaque para o whatsapp. As pessoas agora se comunicam, argumentam entre si, reúnem-se em torno de uma ideia e a proliferam com uma rapidez impressionante. A comunicação mudou nesta era digital. É hora da política acompanhar este novo tempo e, de preferência, que os políticos também mudem seus hábitos. Afinal, agora ficou muito mais fácil acompanhar seus passos e pesquisas suas
vidas.

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