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Coluna Fabrício Wolff | Comunicação em tempo de mi mi mi
20 de Junho de 2018

Coluna Fabrício Wolff | Comunicação em tempo de mi mi mi

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Por Fabrício Wolff 20 de Junho de 2018 | Atualizado 20 de Junho de 2018

As redes sociais expuseram um novo tipo de personagem no dia a dia da comunicação humana: a apelidada “turma do mi mi mi”, composta por gente que polemiza e dicotomiza tudo, sempre com uma grande dose de intolerância. Na realidade, a era da tecnologia web democratizou a comunicação. Antes, quem repassava fatos eram os noticiários e quem os comentava, com críticas, eram os comentaristas, analistas ou colunistas. O grande público fazia apenas o papel de receptor no processo comunicativo. Com a internet – e especialmente as redes sociais – todo mundo pode ser também emissor de uma mensagem pública. Isso pode ser salutar, pois democratiza a informação. Mas…

Este fenômeno social expôs algumas mazelas da sociedade brasileira. Os criadores e os propagadores de fatos falsos (fake news), os eternamente mal humorados, os que pensam que tudo deve ser criticado (inclusive bobagens sem conteúdo importante) e os que acreditam que só pode haver duas interpretações antagônicas dos acontecimentos – quem não é a favor, é contra. E, claro, esses seres crentes que não existe nada entre o azul e o vermelho, ou o preto e branco, a razão está sempre do lado que eles escolheram nesta tola dicotomia.

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Exemplo disso é visto a toda hora, nos mais variados temas. Antigamente o ditado dizia que política, religião e futebol não se discutia (embora todos discutissem). Hoje em dia qualquer fato vale uma polêmica dicotômica (exceto o penteado de Neymar na Copa, sobre o qual parece ter havido unanimidade). E, falando em Copa, a última delas parece ser exatamente entre os que amam a Copa e os que agora detestam a Copa do Mundo. Todos têm as melhores razões para cada lado e não ousem discordar, estar do outro lado.

Senti falta dos que apenas curtem a Copa pelo que o evento representa para o esporte mundial, sem ufanismos nacionalistas (ou anti-governamentais) ou, de outro lado, sem esquecer que o Brasil sofre com a política e a economia, que Fifa e CBF são corruptas e que uma competição esportiva não mudará este estado de coisas. Mas me dá a nítida impressão  de que está faltando espaço nesta ditadura dicotômica para aqueles que, plenamente conscientes de que as coisas não estão como deveriam estar, simplesmente querem curtir o evento esportivo Copa do Mundo com as emoções que ele, invariavelmente, traz.

O fato de acompanhar a Copa e torcer pelo Brasil em seus jogos (e, não raramente, contra a Argentina – simplesmente porque a rivalidade esportiva consciente e madura é legal) não quer dizer que apoiemos as agruras que acontecem no país e no mundo. Nem mesmo que a gente aplauda os milhões de reais, dólares e euros envolvidos na história, embora tenhamos que ter a compreensão de que se trata de business, assim como as Olimpíadas, lutas de boxe, NBA, Superbowl, Fórmula 1 e até o Campeonato Brasileiro. O mundo gira a economia através dos negócios e evento é isso. Países sérios se aproveitam bem desses grandes eventos para investir em infraestrutura e potencializar o turismo – o negócio mais rentável e limpo que existe na atualidade.

Penso eu, na minha humildade racional, que para modificar as coisas em um país, é necessário ter atitude de cidadão e de eleitor sempre. Acredito eu, que não se ajuda a enfrentar nossos problemas simplesmente criticando o futebol ou a seleção em redes sociais. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Porque se não, seria proibido curtir um grande show de rock ou sertanejo, já que o país vive suas mazelas e os astros da música ganham absurdos. Seria uma pândega ir a um grande e opulento casamento de um amigo porque os gastos do acontecimento pessoal-familiar não condizem com a realidade tupiniquim. Mas opinião é algo que cada um tem uma. Respeito todas que respeitem todas. Apenas observo que existe um policiamento ideológico no qual basta você discordar da posição de alguns (muitos) para ser considerado opositor. Cheira-me à pobreza democrática.
 

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