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Coluna Celso Vicenzi | Zero à esquerda.
14 de Dezembro de 2016

Coluna Celso Vicenzi | Zero à esquerda.

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Fui um péssimo aluno de Matemática. Isso para não contar que as disciplinas de Física, Química e Geometria também atormentaram meus dias de colégio. Mas do pouco que gravei dos números e equações que me foram apresentados, nunca esqueci que zero à esquerda não tem nenhum valor. Vale até para xingamento: “Você é um zero à esquerda!” Ou seja, não acrescenta nada.

O mundo, portanto, sempre viveu muito bem sem um zero à esquerda. Pelo menos até décadas recentes, quando não se sabe de onde nem por quem – dizem as más línguas que surgiu entre publicitários, mas não há prova – eis que o zero à esquerda ganha um status nunca antes imaginado em cartazes, banners, flyers e outras peças gráficas. É parente não muito distante da disseminadíssima hora digital que também não existe (ex.: 20:00 com ou sem h), mas isso são outros quinhentos! Que, aliás, têm dois zeros, mas todos à direita. 

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Não satisfeito em marcar presença em outdoors, folhetos, cartilhas e outros materiais gráficos, o zero à frente de datas tem sido utilizado com frequência em releases, notícias, artigos e outros textos jornalísticos. Portanto, quando você imagina que nada poderia ser pior, vários jornalistas – redondamente enganados – fazem questão de demonstrar o contrário.

Assim, sem mais nem menos, multiplicam-se, todos os dias, em publicações impressas ou digitais, exemplos de datas com zero à esquerda. Por exemplo: em 05 de janeiro – ou outro mês – algo foi ou será realizado em algum lugar. 

Ora, o que um zero faz à frente de uma data, sem nenhuma utilidade? Existirá, por acaso, sem que eu saiba ou tenha sido comunicado, o dia zero cinco de janeiro? Ou de agosto? Não importa o mês. Eu só conheço o dia 5 de janeiro, o dia 8 de novembro, o dia 7 de setembro (tá bom, esse todos conhecem!) e assim sucessivamente.

Quem pousou, afinal, todos esses zeros antes das datas? Algum extraterrestre? E, pior, sem que causasse, pelo visto, nenhum estranhamento entre humanos leitores e leitoras, posto que continuam a ser largamente empregados na publicidade, no jornalismo, nas redes sociais e em outros lugares não sabidos por tanta gente que se considera sábia. 

Sabemos que surgiu, primeiramente – ou supostamente –, em balanços contábeis, onde, se não fazia muita diferença à totalidade das somas, ajudava a ordenar as colunas de números. Graficamente, um abaixo do outro, números de uma e duas dezenas “equilibravam-se” melhor quando acrescentava-se um zero à esquerda dos números de um a nove. Mais tarde vieram os computadores, também “viciados” em zeros à esquerda. Não raro, você não conseguia preencher uma data com menos de dois dígitos, em determinados campos, se não colocasse, antes, um zero. O programa exigia.

Como teriam saltado – de paraquedas? – para as peças gráficas e textos jornalísticos é um mistério a ser desvendado. Pode valer um prêmio de reportagem!

O certo é que não dá mais para continuar a pôr venda nos olhos e fazer de conta que ninguém vê. 

– Zero à esquerda, saia já daí, com as mãos para o alto! E pare este assalto. 

Pelo menos, ao bom senso.

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